Sexo nos Espíritos


«202. Quando desencarnado, prefere o Espírito encarnar no corpo de um homem ou de uma mulher?

Isso pouco lhe importa. Tudo depende das provas pelas quais deverá passar.»


Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não há distinção de género entre eles. Como devem progredir em tudo, cada género, bem como cada posição social, oferece-lhes as provas e os deveres inerentes e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem saberia tão somente o que sabem os homens. (comentário de A. Kardec)


É voz corrente que a (re)encarnação em corpo masculino ou feminino depende essencialmente da necessidade evolutiva (o que condiciona, de certa forma, a livre escolha de sexo por parte do Espírito). Essa mesma voz corrente utiliza este princípio da necessidade como primeiro argumento para explicar as encarnações em corpos “trocados”, ou seja, polaridade masculina em corpo feminino e polaridade feminina em corpo masculino. Diz ainda que o Espírito tem de integralizar as virtudes ditas femininas e as virtudes ditas masculinas, e por isso a necessidade.

Mas depois lemos Léon Denis (O problema do ser, do destino e da dor) que nos diz, e passo a citar: «Cremos de preferência, de acordo com os nossos guias, que a mudança de sexo, sempre possível para o Espírito, é, em princípio, inútil e perigosa. Os Espíritos elevados reprovam-na.1 (…) Quando um Espírito se afez a um sexo, é mau para ele sair do que se tornou a sua natureza. (…) Entendemos antes que, pelo próprio facto da ascenção geral, os caracteres nobres e as virtudes multiplicar-se-ão nos dois sexos ao mesmo tempo; finalmente, nenhuma qualidade ficará sendo apanágio de um só dos sexos, mas atributo dos dois.»

Ainda sem outra referência, apenas me socorro de Jorge Andréa que, no livro Forças Sexuais da Alma, alinha com a voz corrente: «Enquanto o Espírito não se apresenta integralizado em sua dupla força sexual, exteriorizará sempre, no processo reencarnatório, a posição que está a exigir experiências e vivências na zona física. (…) Tanto os espíritos masculinos como os femininos expressam-se e imprimem condições condizentes com a sua posição genotípica, existindo as variações de polarização do sexo ou mesmo integralização desses potenciais por condições evolutivas.»


Resumindo:

A evolução é obrigatória. Pode ser protelada, mas não anulada.

A mudança de sexo é necessária para a evolução, segundo o comentário às questões 200 a 202 de O Livro dos Espíritos.

Em Léon Denis a mudança de sexo além de perigosa é inútil, porque desnecessária.

Aceitando como verdadeiras as informações contidas em O Livro dos Espíritos2, pode concluir-se que L. Denis está enganado e que terá sido, eventualmente, vítima de mistificação, mesmo tendo dito que seus informantes eram espíritos elevados?



1 Vemos aqui mais uma vez, e quem frequenta reuniões mediúnicas e lê livros de médiuns tem essa experiência, que com os Espíritos é como com os homens: cada cabeça, cada sentença.

2 Convém ter em atenção que foi impossível a A. Kardec efectuar o tão recomendado e propalado controle universal do ensino dos Espíritos. À altura da redacção de O Livro dos Espíritos, Kardec não era conhecido, pelo que não pode supor-se uma rede de informantes, nem havia internet, telefone, nem meios de comunicação rápidos e eficazes para a correspondência escrita. Só depois de concluídos O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, contendo seus princípios e teorias, é que ficaram prontos para serem, então, analisados por este critério. Aliás, Kardec elucidou em O Evangelho segundo o Espiritismo: "Essa verificação universal constitui uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias. Aí é que, no porvir, se encontrará o critério da verdade." No porvir, sublinho.

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