Da inteligência e instinto


O LE, nas questões 73 e seguintes, diz-nos que o instinto não é independente da inteligência, que se confundem, embora possamos distinguir os actos que a um e outra pertencem, porque os da inteligência estão associados à vontade e à liberdade.

Ordinariamente associamos instinto aos animais e inteligência ao homem. Mas, para baralhar um pouco os nossos conceitos redutores, vejamos:

  1. Estudos mostram que os cães têm habilidades cognitivas sofisticadas, como memória episódica, capacidade de aprender sozinhos, de resolver problemas, de tomar as próprias decisões, compreender a linguagem humana e até de interpretar as emoções do dono ou intuir o que ele está pensando – um tipo de “teoria da mente” rudimentar.

Os cães copiam-nos até na capacidade de recordar eventos específicos, uma habilidade conhecida como memória episódica. O achado surpreendeu até mesmo os pesquisadores; isso porque esse tipo de memória, nos humanos, está associada a factores como introspecção e consciência.

  1. Os gorilas são capazes de usar a habilidade de produzir ferramentas, um traço de inteligência que colocou a civilização humana na Idade da Pedra e mais próxima de dominar o planeta. Chimpanzés e bonobos, por exemplo, têm uma inteligência estratégica semelhante à de uma criança. São capazes de pensar em prós e contras, intuir o que o outro pensa e tomar decisões com base nisso. Os chimpanzés têm outras duas habilidades surpreendentes: identificam números e têm uma memória visual superior à nossa.

  2. Golfinhos identificam-se uns aos outros por meio de uma espécie de apito-assinatura, que os diferencia. Eles também têm autoconsciência.

  3. Os corvos têm uma compreensão do mesmo nível de crianças entre 5 e 7 anos na tarefa de caçar de alimentos que exija alguma habilidade.

  4. Elefantes são capazes de distinguir diferentes etnias humanas pela voz.

  5. Cavalos de Elberfeld:

  1. Compreensão do francês e do alemão, extracção de raízes quadradas e cúbicas e executar pequenos cálculos;

  2. Soletrar palavras que se pronunciavam diante deles e que nunca tinham visto escritas.

(O cavalo é realmente inteligente, raciocina, e, por aí, está mais próximo da Humanidade do que seríamos tentados a supor.)

  1. E esta narrativa: “Há apenas uma hora os pássaros tinham vindo ter com ele soltando pios sofridos, e que ele tinha ido ver, intrigado pela maneira estranha como procediam, tendo sido conduzido por eles ao seu ninho, caído no chão (…) e que tinha sido atacado por uma enorme serpente. Depois de ter capturado a víbora, apanhou uma cria que estava caída por terra, ainda viva, e voltou a pôr o ninho em lugar seguro, no alto da árvore. Voltou para casa, curiosamente seguido pelos dois pássaros, que continuavam no seu alvoroço, piando freneticamente. Ele volta ao ninho e, procurando na terra, descobre mais dois passarinhos que estavam escondidos num buraco entre as ervas e que, ainda não sabendo voar, continuavam escondidos e desamparados. Pega neles com cuidado, volta a metê-los novamente no ninho e regressa. Os dois progenitores já não o seguem.” (Elogio do Silêncio, Marc de Smedt)


593. Podemos dizer que os animais agem apenas por instinto?

Há nisso um sistema. É bem verdade que o instinto domina na maior parte dos animais, mas não vê que alguns agem com uma vontade determinada? Têm inteligência, mas ela é limitada.”


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