Da finalidade da encarnação


«132. Qual é o alvo da encarnação dos Espíritos?

Deus a impõe com a finalidade de fazê-los chegar à perfeição. Os Espíritos passam pela experiência da encarnação visando a objetivos; para uns é uma expiação; para outros, uma missão. Mas, para chegar a essa perfeição, devem sofrer todas as vicissitudes da existência corporal. Esta é a expiação. A encarnação tem também outro objetivo, que é o de colocar o Espírito em condições de cumprir sua parte na obra da criação. É para executá-la que, em cada mundo, toma um corpo, constituído de sua matéria essencial, a fim de nele cumprir as ordens de Deus. Desta forma, concorre ele à obra geral, avançando progressivamente.»


Frequentemente apontamos as vicissitudes da vida como consequência de erros de existências pretéritas. Sem deixarem de o ser também, boa parte das vicissitudes resultam não do que se fez, mas sim do que ainda não se fez. Dito de outro modo e com um exemplo: tirar um curso universitário requer tempo, dispêndio de energia e provas. Ora a perfeição é um curso universitário em que as aulas são as existências corpóreas e os múltiplos exames as provas que aquelas acarretam. Posto isto, nem sempre os julgamentos que fazemos às vicissitudes próprias ou alheias são justos porquanto não significam pagamentos de dívidas, mas sim oportunas dores de crescimento.

De facto, os Espíritos, que são criados simples e ignorantes, só se instruem através das lutas e das tribulações da vida corporal, pelo que ninguém se pode eximir a elas, lutas e tribulações. É óbvio que à medida que se aperfeiçoa diminui ou até evita tormentos, mas enquanto não atinge a perfeição sempre haverá vicissitudes. É ainda o exemplo do estudante: um curso fica completo quanto todas as disciplinas forem feitas; se há uma ou outra que oferece mais dificuldade, é aí que terá de se esforçar mais.

Visto assim, a própria noção de castigo esvai-se. Desse modo, a dor, o sofrimento, podendo ser ainda consequência directa de acções, não é já o látego divino a abater-se em costas desnudas, sim a lição que permite uma qualquer forma de aprendizado. Basta ver que nem os Espíritos que sempre seguem o caminho do bem se isentam das penas da vida corporal.

A perfeição tem custos; o que mais nos custa a aceitar é o preço, porque as vistas são curtas. Com vistas mais largas enxergaríamos o objectivo de cumprir a nossa parte na obra da criação e, desse modo, aceitaríamos mais facilmente, até com gratidão, o suor do esforço, porque não há criação sem trabalho. Afinal, temos uma importância maior que aquele que comummente nos atribuímos, porque viver não se resume ao automatismo fisiológico, nem à herança genética, nem às necessidades que criamos e que tantas vezes são falsas; viver é sobretudo dar utilidade aos atributos do Espírito, desenvolvendo-os e agindo sobre a matéria sem por ela se deixar escravizar. O pensamento é criador e a realidade, aquilo a que chamamos realidade, é produto da nossa mente. É grandioso isto, mas também acrescenta responsabilidade, diga-se de passagem. É por sermos cocriadores e responsáveis pelo que cocriamos que surgem as penas e os méritos, umas e outros maiores ou menores.


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