Esquecimento do passado


«392. Por que o Espírito encarnado perde a lembrança do seu passado?

O homem nem pode nem deve saber tudo; Deus assim o quer na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria ofuscado como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz. Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo.»

«395. Podemos ter algumas revelações sobre as nossas existências anteriores?

—  Nem sempre. Muitos sabem, entretanto, o que foram e o que fizeram; se lhes fosse permitido dizê-lo abertamente, fariam singulares revelações sobre o passado.»

«399. Sendo as vicissitudes da vida corpórea ao mesmo tempo uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, segue-se que, da natureza dessas vicissitudes, possa induzir-se o género da existência anterior?

 — Muito frequentemente, pois cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve tirar daí uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais seguro, porque as provas que um Espírito sofre, tanto se referem ao futuro quanto ao passado.»


    Deve-se à Terapia de Vidas Passadas (TVP) um contributo grande e benéfico para a sustentação científica da reencarnação - e não me cabe um julgamento da utilidade prática para o paciente da recordação induzida.

    Técnica desenvolvida pelo psicólogo clínico norte-americano Morris Netherton, é justo cite os pesquisadores nesta área: Dr. Patrick Drouot, físico francês; Dra. Edith Fiore, psicóloga norte americana; Dra. Helen Wambrach, psicóloga norte americana; Dr. Brian Weiss, psiquiatra, neurologista e professor catedrático norte-americano. E é de elementar justiça cite Albert de Rochas (1837-1914) que com o livro “As Vidas Sucessivas”, lançou os fundamentos da técnica de regressão de memória.1

    Depois temos a abordagem desenvolvida pelo casal Maria Júlia e Ney Prieto Peres, actualmente denominada Terapia Reestruturativa Vivencial Peres (TRVP) (inicialmente designada Terapia Regressiva a Vivências Passadas).

    Na literatura da TRVP são merecedores de atenção os relatos constantes da regressão à vida intrauterina (VIU), onde se evidencia que o feto pode ver (sensibilidade à luz), ouvir, degustar, entender e aprender num nível primitivo, e que é capaz de manifestar sentimentos menos elaborados que os adultos, mas bem reais. 2

    Digno de nota é o estudo em pacientes em regressão, onde são submetidos a uma tomografia com emissão de radifármaco, com mapeamento de ondas cerebrais, para se saber qual ou quais as áreas do cérebro que estariam em actividade naquele momento. A análise a esses exames revelou que as áreas do cérebro mais requisitadas durante a regressão de memória são as do lobo médio temporal e as do lobo pré-frontal esquerdo, que respondem pela memória e pela emoção. Isso quer dizer que os relatos de vidas passadas em regressão de memória não são fruto da imaginação.3

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Na mitologia grega, Lete é um dos rios do Hades. Aqueles que bebessem de sua água ou, até mesmo, tocassem na sua água experimentariam o completo esquecimento. Algumas religiões ensinavam que havia um outro rio, o Mnemósine, e beber das suas águas faria recordar tudo e alcançar a omnisciência. Aos iniciados ensinava-se que, se lhes fosse dado escolher de que rio beber após a morte, deveriam beber do Mnemósine em lugar do Lete.

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    Retrocognição e precognição pertencem à mesma ordem de fenómenos. Na retrocognição os eventos estão lá, feitos, é só aceder ao registo (e não podem ser alterados devido ao paradoxo), mas pode dizer-se o mesmo, nos dois estados, o fixo e o alterado, da precognição?

    É da experiência comum que as precognições de muito curto prazo, descritas por Julia Mossbridge4 como precognições comportamentais ou pressentimentos, são uma realidade, mas aquele outro fenómeno que a mesma investigadora estudou e a que chamou de visão precognitiva longínqua, em que se prevê o futuro a uma distância maior, que pode ser de dias, semanas, meses ou anos, que dizer? Se posso alterar o futuro o paradoxo é o mesmo que o da alteração do passado; se não posso, é a velha disputa entre livre-arbítrio e determinismo. Os conhecimentos actuais não permitem ainda sair do impasse.5


1 Muitos outros nomes podem juntar-se a esta lista. Como exemplo, o alemão Thorwald Dethlefsen, o inglês Roger Woolger, o neerlandês Hans Tendam...

2 Pesquisadores como os médicos Thomas Verny, Dominik Purpura, David Chamberlain, Stanistaw Grof, e outros, descobriram que existe uma ligação intra-uterina muito complexa, gradativa e subtil quanto à estrutura racional que se estabelece após o nascimento. A ligação entre mãe e filho, que se estabelece após o nascimento, é a consequência do que a precedeu.

3 Sim, também me sujeitei à regressão de memória (podia lá não experimentar!). Além de ter vivido emoções que não contava, dissipou-se uma nébula que me ensombrava e peças soltas de um puzzle por resolver encaixaram na perfeição. Hoje em dia não deve haver hipnoterapeuta que ignore na sua prática a regressão a vidas passadas.

4 Mossbridge é docente no departamento de Física e Biofísica da Universidade de San Diego, membro do Institute of Noetic Sciencies e fundadora do Mossbridge Institute e do TILT – The Institute for Love and Time.

5 Exercício teórico: e se eu vim do futuro a este tempo, que é, portanto, passado para mim, reescrever a minha história? Pode parecer absurdo, pelo menos nesta formulação, mas se o futuro já existe também existe fundamento para esta especulação.

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