Espantos


Quando eu era infante, num tempo de Salazar que incapazes de serem livres e de quererem a liberdade para os outros, entre mais critérios falhos de amor, dizem que era bom, num anexo a cair de velho onde se guardavam as enxadas e dormiam galinhas, havia penduradas plantas a secar ou já secas. Tenho diante dos olhos da memória os raminhos de macela e ao lado os de marroio. Ainda lhes sinto o cheiro – e este é um fenómeno, entre tantos, que me enche de espanto (e tudo o que espanta convida a pensar). Adiante.

Eu sei que as plantas gostam de mim; toda a gente sabe como elas são sensíveis ao que sentimos por elas. Toda a gente sabe (ou se calhar não, e também por isso repito a informação) que elas também têm L-fields, ou seja campos vitais, e que uma inspecção feita com galvanómetros ultra-sensíveis é capaz de, em seu estágio inicial, revelar o formato do material que será moldado ali. Como? É! Como toda a gente sabe (ou talvez não), uma única célula traz em si mesma o código do ser inteiro.1 O que vai formar ali depende das determinações no Campo Electrodinâmico de Vida. A vida é anterior à vida. No vegetal, no animal, no hominal (o tal perispírito) .

As plantas não têm, obviamente, uma consciência, pelo menos como a entendemos, mas a nível energético há um diálogo e um entendimento que pode ser mantido e estabelecido entre ambos, homens e plantas. Afinal, o princípio inteligente, ou espiritual, estagia nos diversos reinos da natureza, e é no vegetal que adquire a sensibilidade.2

Vai daí, a fitoterapia, uma das técnicas mais antigas utilizadas pelo Homem com finalidade de melhorar o estado de saúde do indivíduo, pode, com o amor do terapeuta (o amor, a excelência magnética!), ser o milagre da cura. O meu cão sabe disto a fundo, basta vê-lo a escolher ervas medicinais quando passeamos à beira-rio.3 É outra coisa que me espanta a sabedoria dele. Que é afinal o instinto? Os Espíritos (os de O Livro dos Espíritos) dizem que é uma forma de inteligência e que nunca engana.4 Mas então qual a vantagem de nos ser adormecido o instinto e ficarmos sujeitos ao engano?


Quando já não era infante fazia muito tempo encontrei os florais de Bach e, principalmente, o homem espantoso que os criou e lhes deu o nome. E como a liberdade é algo imprescindível para que o espanto não se fique pela boca aberta (e entre mosca) tenho de referir que escreveu Liberte-se, obra em que fala com simplicidade a respeito de como o homem pode aprender a usar sua intuição e a confiar em si mesmo e em sua orientação interior, tornando-se assim saudável, útil e feliz.

Para não me desviar do tema não sigo a direcção da biografia, antes sintetizo a filosofia dos florais de Bach: cada flor possui uma estrutura genética e energética determinada, com a respectiva frequência de oscilação, que se reflecte num correspondente estado de alma; as pessoas também se manifestam na forma de energia vibratória, pelo que quando estão sob influência de determinados sentimentos, emoções e pensamentos, esta vibração altera-se; no organismo, os florais actuam por energia vibratória, não tendo acções químicas sobre o mesmo.

        Como nota final acrescento que quando em 1933 o Dr. Bach identificou mais quatro novos florais, aos quais chamou de Quatro Auxiliares, disse que essas novas essências eram para: “…pessoas que se acostumaram à doença num tal grau que esta se torna parte de sua natureza”. A sua sugestão foi a de que os Quatro Auxiliares poderiam tirar estes sofredores de seu estado de estagnação e impulsioná-los para uma actividade totalmente nova. Voltariam, então, para as dificuldades originais de seu tipo de floral, e poderiam ser auxiliados por um dos Doze Curadores.

            Não é um espanto tudo isto?



1 Segundo espanto: Está demonstrado experimentalmente que separando as duas primeiras células filhas de um ovo cada uma delas tem a capacidade para formar um ser completo, mas se se inutilizar uma delas a sobrevivente apenas consegue fabricar metade de um embrião inviável. (António Amorim, A Espécie das Origens)

2 Para alimentar a possibilidade da senciência vegetal consulte as recensões sobre os experimentos de Cleve Backster, sobre os quais, adianto, não há consenso quanto à validade do método nem das conclusões.

3 Tenho aprendido muito com o meu cão. Uma coisa que a princípio me incomodava era vê-lo a deleitar-se com a urina de outros cães, mas ele não podia estar enganado. E não é que a urina, toda ela, tem excelentes propriedades medicinais, além das potencialidades como fertilizante natural e energia verde? Definitivamente, não há nada inútil na natureza.

4 Cada um, de Espíritos e de homens, diz segundo o seu conhecimento. O espantoso nisto é a capacidade que temos de nos demorarmos séculos, literalmente, presos aos mesmo pensar erróneo. Sucedem-se as reencarnações e as erraticidades e mantêm-se os equívocos.

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