Umbral

Umbral é um termo introduzido no movimento espírita a partir da obra (pseudo) espírita Nosso Lar (pretensamente) psicografada por Francisco Cândido Xavier e atribuída a um espírito nomeado como André Luiz, para designar uma zona ou região cósmica, acima da Terra, antes das Colónias Espirituais, que reúne Espíritos desencarnados que em vida tiveram uma trajectória de acções, emoções e pensamentos negativos.

Por que é pseudo-espírita? Porque na doutrina espírita, que é o legado de Allan Kardec e não outra coisa (o legado de Chico Xavier é o chiquismo ou outro nome que queiram inventar, mas não espiritismo) em lado algum se encontra algo parecido ou que nesse sentido conduza. Ao invés, diz que “ Os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita; estão por toda parte no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contínuo. É toda uma população invisível, a mover-se em torno de nós.”1

No chiquismo, o Umbral é uma versão romanesca do velho Tártaro da mitologia grega e romana, ou o Purgatório do catolicismo que o escritor sentidamente professava; e pelos pressupostos implícitos que conduzem o pecador ao Umbral, este torna-se uma fatalidade da qual, numa versão muito optimista, escapa um em um milhão, tal a exigência selectiva. Daí, o espiritismo em vez de ser o tão propalado consolador é procustiano. (O entendimento de karma no movimento espírita – no chiquismo - está concebido no mesmo molde terrífico, é um determinismo causal inexorável.)

Por que é pretensamente psicografada? Porque são já tantas as vozes que se fazem ouvir de que o “psicógrafo” era dado ao plágio, muito perceptível neste Nosso Lar, e ao pasticho literário - imitação não fruto de fartos recursos mediúnicos, sim de leitura e treino -, que a dúvida se apresenta para além de razoável. No mínimo, as ideias, o sistema de crenças e as aspirações do médium sempre acabavam reflectidas na comunicação. Os do lado de lá secundavam o do lado de cá, e vice-versa. Como é usual acontecer na mediunidade.2 (Cf. LM, 227)

Mas cada um tem a sua verdade, e se a verdade vem da figura de “médium-estrela” e vai de encontro a crenças enraizadas, fica curta a distância entre o imaginário e o vocabulário – e logo a ideia é mimetizada e multiplicada. Todavia, a figura de “médium-estrela”, neste caso cultivada pelo próprio sob os bons auspícios da Federação Roustanguista Brasileira (dizer “Espírita” é insultar Kardec), é soez distorção do sentido de médium, que no espiritismo tem de ser apenas um intermediário da comunicação entre vivos e mortos, sem fazer alarde à sua figura pessoal nem ao seu trabalho. Portanto, o médium espírita será um mero canal, alguém sem muita importância senão como um mero transmissor de mensagens, sem que se sujeite a ser o centro das atenções nem o detentor das mensagens comunicativas. Bustos pertencem aos sonhos de comendadores, que desejam a glória do mundo, não aos sonhos de servidores realmente humildes.


1 LE, Introdução, VI. Tão pouco nas inúmeras conversas que mantive com os Espíritos, alguma vez, que me lembre, referiram essa zona ou região.

2 Os procedimentos e recomendações presentes em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, estão ausentes do "movimento espírita". Há toda uma desonestidade doutrinária que transforma a mediunidade em uma mentira.

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