Os elementos gerais do universo


- Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito?

- Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal.


Esta intuição (Intuição: como conceito, a intuição é definida como a capacidade de perceber, discernir ou pressentir uma explicação independentemente de qualquer raciocínio ou análise) é central em algumas das mais representativas religiões mundiais. Senão vejamos:

Na literatura vedanta da Índia, a a palavra sânscrita nama é usada para denotar arquétipos transcendentes, e rupa significa sua forma imanente.1 Para lá de nama e de rupa, brilha a luz de Brama, a consciência universal, o único sem um segundo, o fundamento de todo o ser.

[Estima-se que as partes mais novas dos Vedas datam a aproximadamente 1000 a.C.; o texto mais antigo (Rigveda) encontrado é, actualmente, datado a aproximadamente 1500 a.C. ou 2000 a.C., mas a maioria dos indianistas concordam com a possibilidade de que uma longa tradição oral existiu antes disso.];

Na filosofia budista [Sidarta Gautama, conhecido como o Buda, século V a.E.C], os reinos material e das ideias receberam os nomes de Nirmanakaya e Sambbhogakaya, respectivamente, mas, para lá deles, existe a luz da consciência única, Dharmakaya, que os ilumina a ambos;

O símbolo taoísta do yin e do yang é capaz de ser, de um modo geral, mais conhecido do que os símbolos indianos. O yang, claro, considerado um símbolo masculino, define o reino transcendente; e o yin, escuro, considerado um símbolo feminino, define o imanente. Aquilo que permite ora as trevas, ora a luz, é o Tao, o uno que transcende as suas manifestações complementares.

[Tradicionalmente, o taoísmo é atribuído a três fontes principais, que vão aproximadamente 2700 a.E.C até 286 a.E.C];

A Cabala judaica descreve duas ordens de realidade: a transcendente, representada pelas sefirot como teogonia, e a imanente, que é a alma de-peruda, «o mundo da separação». De acordo com o Zohar «se contemplarmos as coisas em meditação mística, tudo se nos revela como uno».

[O Zohar, texto fundamental da Cabala, foi composto no final do século XIII. Historicamente, a Cabala surgiu por volta do fim do século XII e início do século XIII, na Espanha e no sul da França, a partir de formas anteriores do misticismo judaico. Os praticantes da Cabala tradicional acreditam que suas origens remotas antecedem o próprio surgimento das religiões.];

No mundo cristão, os nomes do reinos transcendente e imanente – céu e terra – fazem parte do nosso vocabulário quotidiano. Além dos reinos do céu e da terra, existe a Divindade, o Rei dos reinos.

Em todas estas descrições se diz que a consciência única nos chega por intermédio das manifestações complementares: ideias e formas2, nama e rapa, Sambhogakaya e Nirmanakaya, yang e yin, céu e terra. (Amit Goswami, O Universo Consciente)

Constatando a antiguidade desta intuição e constatando que são muitos os milhões de indivíduos da população mundial que a aceitam como verdadeira, podemos deduzir que é assim que é, que há dois domínios de realidade, o imanente e o transcendente, o material e o espiritual, e acima de ambos, Deus (ou Brama, ou Dharmakaya, ou Tao)?

 Não é a quantidade de gente que acredita numa determinada coisa que afere se essa coisa é verdadeira ou falsa. Uma esmagadora maioria acreditava que o Sol girava em torno da Terra e só uma ínfima minoria defendia o contrário, e depois verificou-se que a esmagadora maioria estava redondamente enganada. A intuição pode estar certa, ou não.

A psicologia ainda não deu como definitiva nenhuma das muitas teorias que tem sobre a intuição, o que faz com que muitos acreditem que ela é um processo paranormal ou divino. A intuição pode ser responsável pela elaboração de hipóteses que posteriormente poderão ser comprovadas ou não, mas não é satisfatória como fonte de conhecimento pela dificuldade de ser testada. Porém, existe epode reflectir três tipos básicos de ocorrências: a) manifestação da faculdade anímica ou emancipação da alma; b) expressão da faculdade mediúnica; c) lembrança de aprendizado adquirido em épocas passadas e/ou no plano espiritual.

A intuição tem a ver com a consciência, que se expande no infinito. Quanto maior o raio da consciência, maior a abrangência da intuição. A consciência singular não pode expandir-se infinitamente, porque tenderia a integrar-se no todo e a desintegrar-se como singularidade; perdendo a singularidade, logo, deixando de ter a capacidade de auto-referência (Auto-referência: capacidade de um sujeito de falar de ou referir-se a si mesmo: ter o tipo de pensamento expresso pela palavra "eu"), ser ou não-ser equivalem-se – e deixa de fazer sentido existir.

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(…) Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais.”


E assim, a introdução deste intermediário resolve, em princípio, o conflito dualista (Dualismo: conceito religioso e filosófico que admite a coexistência de dois princípios necessários, de duas posições ou de duas realidades contrárias entre si, como o espírito e matéria, o corpo e a alma, o bem e o mal, e que estejam um e outro em eterno conflito. São por excelência doutrinas dualistas aquelas que tentam explicar metafisicamente o universo através de dois princípios irredutíveis entre si), bem como tira argumentos ao monismo (Monismo: crença de que todas as coisas são fundamentalmente compostas de uma substância ou princípio único, seja a matéria no monismo material, seja o espírito no monismo idealista) na disputa com o dualismo.


1Imanente: Que é relativo ao concreto, ao material ou ao domínio da experiência   possível; Transcendente: Superior que está acima das ideias e conhecimentos ordinários.

2 Platão (428/427 a.E.C – 348/347 a.E.C.). A Teoria das Ideias ou Teoria das Formas afirma que formas (ou ideias) abstratas não-materiais (mas substanciais e imutáveis) é que possuem o tipo mais alto e mais fundamental da realidade e não o mundo material mutável conhecido por nós através dos sentidos.

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