Considerações acerca da obsessão


Todos, julgo eu, temos padrões de pensamento sobre nós e sobre a vida que se tornam bastante repetitivos. Tipicamente, experimentamos entre cinquenta mil e setenta mil pensamentos por dia, e oitenta e cinco por cento destes são iguais aos pensamentos do dia anterior e aos do dia anteanterior. Essa repetição provoca sulcos profundo no nosso caminho neurológico, um pouco como a erosão de um rio – quanto mais água passa por um único caminho, mais se conforma naturalmente a persegui-lo e mais o escava. É uma pescadinha de rabo na boca: quanto mais pensamos desta forma, mais pensamos desta forma. 1

Imitando a interferência não local2 observada com electrões, em experiências com meditadores colocados em meditação conjunta e monitorizados por eletroencefalografia foram demonstradas mudanças nas ondas cerebrais no mesmo instante em que apenas um deles foi estimulado por uma luz estroboscópica, indicando que esta interferência não local pode estar presente entre as pessoas entrelaçadas para um mesmo fim. Então, o pensamento pode ser uma energia de interferência não local.

O conceito da não localidade, ou consciência não local, é, conjuntamente com outros experimentos, um ensaio da ciência em direção à confirmação da existência do espírito, e leva a que se especule que o pensamento possa ser uma energia actuante no meio. Unindo o aspecto espiritual ao científico, temos o pensamento como uma energia que pode actuar sobre a matéria, seja mental ou etérea. Devido à plasticidade de ambas, poderão ser moldadas de acordo com o padrão ou a característica da energia actuante. Dessa forma, de acordo com a intensidade e a densidade dos nossos pensamentos, poderemos moldar essas matérias a ponto de tornarem-se visíveis: as formas-pensamento.

Caso os nossos pensamentos sejam de característica muito inferior – como ira, rancor, ódio, avareza, vaidade, orgulho, sexualidade exacerbada, apegos excessivos e tantos outros –, moldaremos nossa matéria mental e a etérea que nos circunda com energias de baixa vibração e alta densidade. Com a perpetuação desse processo, cristalizamos ao nosso redor esses pensamentos, que, por força do hábito, gradativamente se tornam uma realidade para nós. Assim, deixamos de perceber a real verdade para apenas enxergarmos a verdade que queremos. Passamos a acreditar que estamos certos, e os outros errados. Então, nós fixamo-nos em uma forma-pensamento, que, por mecanismo de retroalimentação ou feedback, alimenta ainda mais os pensamentos que nos colocaram nessa posição. Entramos em um ciclo do qual é muito difícil sair.

Toda a onda tem uma frequência e uma amplitude, que lhe permitem certa sintonia, lembrando que sintonias afins tendem a unir-se. Desse modo, ocorre afinidade entre duas faixas de mesma frequência e mesma amplitude. Portanto, nós unimo-nos a outros pensamentos similares aos nossos por meio dessa energia. Recebemos o que emitimos.

Assim, recebendo os estímulos que a vida nos oferece construímos por conta própria as interpretações e os juízos de valores para as pessoas, os objetos e as situações que nos afectam. A auto-obsessão ocorre quando fazemos o papel de obsessor em uma ideia fixa e também o papel de vítima. (“O homem não raramente é obsessor de si mesmo. Alguns estados doentios e certas aberrações que se lançam à conta de uma causa oculta, derivam do Espírito do próprio indivíduo. São doentes de alma.” - A.K., OP)


(Comummente obsessão é definida como consistindo em uma ideia fixa e persistente que determina a conduta de uma pessoa, conduzindo a comportamentos que frequentemente são contra a vontade da pessoa obcecada. Mas etimologicamente a palavra obsessão e obcecado têm origens distintas. Obcecado tem origem no latim obcaecare, que indica um estado de cegueira. Isto porque o indivíduo obcecado não consegue avaliar os seus comportamentos e a própria realidade. Por outro lado, obsessão vem do latim obsedere, que indica o acto de cercar ou rodear alguma coisa ou alguém. Sendo assim, se a obsessão tem causa externa, o sujeito da obsessão é obsidiado ou obsesso, e obcecado o da obcecação.)


Para o espiritismo, obsessão significa interferência ou influência, geralmente negativa, exercida por um Espírito sobre outro. Todo o espírita sabe que a obsessão apresenta graus diversos, de que resultam efeitos variáveis, mas já não tem tanto presente que há várias formas de obsessão, que não só de desencarnado para encarnado. Entendendo a obsessão como o domínio de uma mente sobre outra mente, ou seja, um processo de transmissão mental, compreende-se que ela pode apresentar outras características, tais como de desencarnado para desencarnado, encarnado para encarnado, e encarnado para desencarnado.

Como na natureza a Lei da Afinidade é um facto, passamos a conectar-nos com energias afins, semelhantes à que emitimos. Isso porque estamos mergulhados em um consciente coletivo, em que cada um de nós emite suas energias mentais, projetando-as no Fluido Cósmico Universal (Campo de Energia Universal) que nos envolve. Assim, atraímos o que emitimos, uma verdadeira sinergia.

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Primeira linha da constituição da UNESCO: «Uma vez que as guerras começam na mente dos homens, é na mente dos homens que a defesa da paz deve ser construída».


1 O Portal. Tom Cronin & Jacqui Fifer

2 Não local: onde elementos podem estar correlacionados, ou podem interagir, em diferentes pontos do espaço-tempo sem nenhuma mediação.

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