Da consciência


Etimologicamente consciência tem duas raízes possíveis, ambas do latim. Uma, radica em conscire (estar ciente); outra, na junção de duas palavras, conscius+sciens: conscius (que sabe bem o que deve fazer) e sciens (conhecimento que se obtém através de leituras; de estudos; instrução e erudição).

Acontece que ambas remetem para conhecimento, e o aumento de conhecimento apura a consciência relativamente ao objecto do conhecimento. Esta correlação é mais evidente no domínio da moral, e começa logo com o postulado de que o homem tem a lei de Deus escrita na consciência. Se assim é, há desde logo a implicação primordial da ideia inata de Deuse por extensão, das ideias inatas, entre elas as das leis morais.

Admitindo a doutrina das ideias inatas, o que se verifica é que elas estão sujeitas a um processo evolucionário, vale dizer, acompanham a evolução do conhecimento, e o entendimento de Deus e da lei mudam com o andar do tempo. Assim, a adquirição concomitante de conhecimento e de consciência é um processo evolucionário que necessita de colher experiência no tempo, tempo que se mede em milénios.

Entendamos uma coisa: se é verdadeiro que existe uma categorização de mundos, por comodidade didáctica estabelecida em cinco níveis,1 e se é verdadeiro que a Terra só agora, 200.000 anos após o surgimento do Homo sapiens (já nem vamos considerar as primeiras espécies do género Homo, que datam de há milhões de anos atrás), está a transitar para o terceiro nível, como se pode pretender que tenhamos, ainda que por indivíduos isolados, atingido a plenitude do conhecimento, da consciência ou do que quer que seja? A manter-se a média, como suposição, e apenas como imagem para realçar a relatividade do que sabemos, ainda faltam 600.000 anos para atingir a culminância!

Se entendermos a consciência como fundamento de todo o ser, temos o inconsciente como aquilo de que existe consciência, mas não percepção (Percepção: a habilidade para captar, processar e entender a informação que nossos sentidos recebem). A consciência é omnipresente, mesmo quando nos encontramos num estado inconsciente. É o nosso eu consciente que se mantém inconsciente de algumas coisas durante a maior parte do tempo. Em contraste, o inconsciente parece manter-se consciente de tudo, sempre. Em favor deste estado de alerta permanente existem os resultados de diversas experiências de Percepção Inconsciente. Neles, os eventos são percepcionados, mas de cuja percepção não se está ciente. Por essas experiências ficou demonstrado que qualquer um dos três concomitantes comuns da experiência consciente (pensamento, sentimento e escolha) estão presentes na percepção inconsciente. (Amit Goswami, O Universo Consciente)

Muito parece que tal se processa para lá e fora dos sentidos comuns; invoca-se, para explicar, a não-localidade, que mais não é que o campo de actuação do ser espiritual perene - o que somos para além dos corpos físicos que sucessivamente temos –, campo que também pode ser chamado da consciência, da mente ou espaço de trabalho global.

A melhor maneira de encontrar experimentalmente o Espírito é admitir, ainda que como hipótese, a sua existência, já que é preciso crer para ver. Os caminhos dos homens ficavam seguramente mais planos.

1 Mundos primitivos, mundos de expiação e provas, mundos de regeneração, mundos ditosos ou felizes e mundos celestes ou divinos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog