Mediunismo1 ao longo dos tempos


        Em todas as civilizações, profetas, sacerdotes, videntes, xamãs, adivinhos, pitonisas, curadores, magos, feiticeiros prestavam-se à intermediação mediúnica. A crença na aparição e manifestação dos "mortos" remonta a eras que se perdem na noite dos tempos. Desde que o mundo existe, os Espíritos nunca deixaram de patentear aos homens a sua imortalidade. De facto, a comunicação entre desencarnados e encarnados é tão antiga quanto a própria Humanidade, pelo motivo simples de que a mediunidade é um atributo do ser humano. (Importante é abrir o parêntese de que a mediunidade independe da moralidade.)

        Fechado o parêntese, remontamos ao Código dos Vedas, o mais antigo código religioso de que se tem notícia, onde se encontra o registo da existência dos Espíritos. Desde tempos imemoriais, os sacerdotes brâmanes, iniciados nos mistérios sagrados, preparavam indivíduos chamados "faquires" para a obtenção dos mais notáveis fenómenos mediúnicos, tais como a levitação, o estado sonambúlico até o nível de êxtase, a insensibilidade hipnótica à dor, entre outros, além do treino para a evocação dos Pitris (espíritos que vivem no espaço, depois da morte do corpo).

        Os celtas, povo pré-histórico que se espalhou por grande parte da Europa entre os séculos XXI e I a.E.C., possuíram grupos fechados de sacerdotes especializados em comunicações com o além, chamados de "druidas“. De notar que a sabedoria druídica já admitia a reencarnação, a inexistência de penas eternas, o livre-arbítrio, a imortalidade da alma, a lei de causa e efeito e as esferas espirituais.

        No Egipto antigo, na Suméria, na Babilónia, na Grécia antiga o fenómeno mediúnico não constituía novidade, assim como não são parcos os relatos a respeito no Antigo Testamento. A ciência dos sacerdotes do Egipto antigo ultrapassava em muito a ciência atual, pois conheciam o magnetismo, o sonambulismo, curavam pelo sono provocado, praticavam largamente a sugestão, usavam a clarividência com fins terapêuticos e eram célebres pelas práticas de curas hipnóticas. A medicina entre os habitantes da Suméria era um curioso misto de ervanária e magia, cujo receituário consistia principalmente em feitiços para exorcizar os maus espíritos que acreditavam ser a causa das moléstias. Já os babilónios primitivos viviam cercados de superstições. Acreditavam que hordas de espíritos malévolos se escondiam na escuridão e cruzavam os ares, espalhando em seu caminho o terror e a destruição, para os quais a única defesa eram os sacrifícios e os sortilégios mágicos. Na Grécia, a crença nas evocações era geral. Todos os templos possuíam as chamadas "pitonisas", encarregadas de proferir oráculos evocando os deuses, mas às vezes o consultante queria ele próprio ver e falar com a "sombra" desejada.

        E na China eram conhecidas, desde há muitos séculos, “as mesas semoventes, que sabem também escrever, com a ajuda, seja de uma pena, seja de um lápis, que se lhe prende perpendicularmente a um dos pés”. (No século XIX o fenómeno paranormal das mesas girantes era moda nos salões parisienses. Foi a partir da observação deste fenómeno e posteriores desenvolvimentos que Allan Kardec escreveu os livros que sustentam teoricamente o Espiritismo. Mas como se vê, e o próprio reconheceu, aquilo que o Espiritismo trouxe sempre existiu, apenas não estava estudado.)

E, claro, temos todas aquelas médiuns que tendo a sorte de serem freiras foram declaradas santas, mesmo que sendo joguete das piores entidades espirituais, e as que não sendo freiras foram queimadas como bruxas malévolas, mesmo que assistidas por bons Espíritos.

1 Alexandre Aksakof empregou, em 1890, o termo mediumnismus para designar o uso das faculdades mediúnicas.

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