As cordas do coração


«251. Os Espíritos são sensíveis à música?
Queres falar da vossa música? O que é ela perante a música celeste, essa harmonia da qual ninguém na Terra pode ter ideia? Uma é para a outra o que o canto do selvagem é para a suave melodia. Não obstante os Espíritos vulgares podem provar um certo prazer ao ouvir a vossa música, porque não estão ainda capazes de compreender outra mais sublime. A música tem, para os Espíritos, encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas muito desenvolvidas. Refiro-me à música celeste, que é tudo quanto a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e mais suave.»

“As notas abrem as portas do nosso coração. Emocionamo-nos com uma melodia que atinge, tranquiliza, desperta, liberta ou inspira nosso centro do coração. Sabemos quando uma melodia toca nossas cordas porque afloram as lágrimas e emoções que às vezes nos surpreendem. Não é um processo cognitivo, sim de sentimento. Nossas expressões mostram a conexão entre a melodia e o coração. Quando memorizamos a música, dizemos que a sabemos de coração*. Quando cantamos forte uma melodia, dizemos que estamos a cantar a pleno coração**. Escutamos nossa canção do coração e escutar a nossa canção favorita toca as nossas cordas do coração. A expressão cordas do coração procede da expressão latina chordae tendinae, que são os tendões que abrem e fecham as válvulas do coração. Quando falamos, há uma melodia na arte da linguagem; esta melodia é a canção falada que expressa as nossas emoções. Os linguistas denominam prosódia a esta melodia da linguagem, às tonalidades agudas e graves, às mudanças de tons melódicos das nossas palavras. A melodia da linguagem transmite as emoções de nosso coração. É a canção das notas da linguagem que expressa os sentimentos que transmitem as palavras. No desenvolvimento humano, a melodia é anterior à linguagem; cantamos antes de falar. Talvez em vez do refrão africano que diz «Se falas, podes cantar», seria mais certo o contrário, «Se podes cantar, podes falar». A melodia é uma poderosa força criativa que nos permite entrar na sede do amor, que é onde começa a cura. Estar centrado no coração é uma metáfora de viver com compaixão e paixão, em vez de estar desconectados da força de amor que encerra a música. Poderias dizer que a melodia é uma forma de cirurgia a coração aberto. Como disse o mestre sufi Hazrat Inayat Khan: «Concentrar o nosso coração na música é como aquecer algo que estava congelado. O coração regressa ao seu estado natural».” (Christine Stevens, Music Medicine - The Science and Spirit of Healing Yourself with Sound , a partir da tradução castelhana La música como medicina – la curación a través del sonido)


* em inglês, saber algo de coração «by heart», significa «saber algo de memória».
** «sing your heart out» equivalerá a «cantar a plenos pulmões». «Heart song», a «canção favorita».

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            A amplitude sonora na arte dos sons vai dos 16,35 Hz de Dó2 da oitava subcontra até aos 4186 Hz de Dó5 da quarta oitava. Pela audição percebemos a faixa vibratória de 16 Hz até 16 a 20 mil Hz.
 Imaginando o universo como um teclado cósmico, como o concebeu Camille Flammarion, os fenómenos mediúnicos e transcendentes “tocam” em faixas vibratórias na ordem de 8x1015 Hz e 8x1018 Hz. São as ondas ultracurtas, tipo raios gama, de premonição, clariaudiência, clarividência, telepatia, comunicação com seres espirituais…

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P.S.: Ouvi dizer que a poesia gera mais prazer, a nível cerebral, que a música, e que estimula a memória, facilita a introspecção e nos relaxa.1


1 O papel da poesia é criar ilusão, para quem a escreve e para quem a lê. Como Górgias (480-378 a.E.C.) entendia a linguagem, esta não evoca senão a aparência - mas somente a ilusão da poesia cria coerência mental. Mas é ilusão da poesia, ou poesia da ilusão? Pela musicalidade das palavras levam-nos a alma, persuasivamente, até onde bem querem.

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