Levitação


        A palavra peso indica uma relação entre dois corpos e não a natureza de um deles. Se pudéssemos suprimir o Sol (e todas as estrelas fixas), o peso da Terra seria nulo. Se fizermos desaparecer o corpo atraente, o outro naturalmente não é mais atraído, porque é unicamente na atração que consiste o peso. Em uma palavra, a gravitação não caracteriza de modo algum o estado efectivo e invariável dos corpos. Não podemos suprimir a Terra, mas talvez a sua força de atracção possa ser anulada pelo concurso de forças capazes de transformar, em dadas condições, a gravitação em levitação.1

        Existe uma força terrena agindo à distância, que nos parece apropriada à explicação da gravitação: é a electricidade. Em uma memória “sobre as forças que regem a constituição íntima dos corpos”, publicada em 1836 e reproduzida por Zöllner, Mossoti já declara que a gravitação pode ser considerada como uma consequência dos princípios que regem as leis da força eléctrica. Faraday queria determinar experimentalmente as relações que podiam existir entre a gravitação e a electricidade. Ele partia da premissa seguinte: se essas relações existem, a gravitação deve encerrar alguma coisa que corresponda à natureza dual ou antitética das forças electromagnéticas. Portanto, se o peso ou a gravitação é um fenómeno eléctrico, deve ser modificável e polarizável pelas influências magnéticas eléctricas. É o que demonstra o íman agindo em sentido inverso do peso. Este depende da densidade, da coesão das partículas, não sendo a coesão mais que electricidade presa. O exame desse fenómeno cósmico nos permite supor que a gravitação é idêntica à atracção eléctrica, mas que, pela mudança de sinal da electricidade, a gravitação pode ser mudada em levitação e reciprocamente. Resulta daí, para a ciência, a possibilidade de modificar ou abolir o peso em condições submetidas a leis. (Carl du Prel)

        Essas analogias permitem supor que o magnetismo animal é susceptível, por seu lado, de contrariar a acção do peso, isto é, de produzir a levitação. Se agora notarmos que o peso aparente de um corpo pode achar-se modificado sem adição nem subtração de matéria, resulta, uma vez ainda, que o peso de um corpo não depende da quantidade de matéria que ele contém, mas do seu conteúdo de od e que, de conformidade com a sua polaridade, o peso aparente se acha modificado pela subtração ou adição de od. (Reichenbach, odic force2)

        Nas sessões espíritas se verifica que a força de levitação, como força motora, emana do médium e também dos assistentes. Todas essas faculdades, aumento de peso e levitação, não podem ser próprias do corpo material do médium, mas sim do seu corpo astral que, de natureza ódica e polarizada como é, pode agir sobre o conteúdo ódico íntimo dos objetos. Como, depois da morte, o corpo astral subsiste, é claro que os Espíritos devem ser dotados das mesmas faculdades. A esse respeito é bom notar que a vidente de Prévorst atribuía a faculdade de suprimir o peso, não somente ao seu espírito nervoso, mas também aos Espíritos. Ela afirmou muitas vezes que os Espíritos têm o poder de subtrair o peso aos objetos, e esse facto me parece experimentalmente provado por todos os fenómenos espíritas, nos quais o peso se acha aumentado ou diminuído segundo o desejo expresso do operador, como nas supracitadas experiências de Crookes. (Kerner – Blaetter aus Prévorst, I, 119.)

        O fenómeno de transporte repousa na levitação. É o que se observa nas numerosas histórias das casas mal-assombradas, onde os objetos mais estranhos servem de projécteis. A influência da vontade mal exercida pode, pois, ser perturbadora e apresenta um inconveniente grave contra o qual sempre se deve estar alerta. Mas essa constactação nos fixa um ponto interessante: é que não só o organismo humano possui a faculdade de unipolizar suas polaridades de detalhe e agir directamente em certas condições de estado e gradação sobre a matéria inerte, mas ainda que essa acção se opera pelo impulso irradiante da vontade, que absorve, então, todas as polarizações inferiores à sua. (Alphonse Bué)


Crédito: A Levitação, Albert de Rochas


1 Levitação, fenómeno que deve seu nome ao fato de ver-se diminuído ou abolido o peso natural dos corpos.

2 Força ódica = Ectoplasma

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