À conversa com Espíritos - VII


- Os Evangelhos são férteis em atribuir a Jesus capacidades tais como invisibilidade, levitação, cura, telepatia, e em todos os tempos e lugares há referência a homens que se libertam das mesmas limitações impostas pelas leis da física. Inclusive, a teoria da kundalini diz que durante o processo e em razão dele, os siddhis, ou poderes, se tornam activos, pelo que fica ao alcance de todo aquele que faz a integração das polaridades, que alcança a unidade, essas capacidades. É claro que este poder pressupõe, ou porventura implique, elevado desenvolvimento espiritual, mas está algures no caminho de todos e cada um – e há também referências a iguais capacidades em visitantes de outros planetas. São pois fenómenos naturais e não sobrenaturais, e as narrativas correspondem a factos e não mais a lendas. E sendo ou não um processo da kundalini, acontece que atingido que seja o estado que alguns chamam de iluminação, estas capacidades ficam sob o comando da vontade. É assim?


- Aqueles que ao longo dos séculos, em diversas épocas e lugares, têm vindo transmitir conhecimento da realidade espiritual do homem, que na encarnação está imbricada com a realidade material, move-os o desejo de que esse conhecimento aproveite a todos, e jamais arrogam o exclusivo dos proveitos que desse conhecimento advém. Se quisermos assumir Jesus como referência, porque é aquele que pelos textos melhor conheceis, basta ter presente que ele foi claro ao dizer que qualquer um podia fazer o que ele fazia e ainda mais. É o que está escrito e bem pode ser tomado à letra.

Procrastinar o inevitável só agrava as causas psicológicas da procrastinação. É o que se chama uma pescadinha-de-rabo-na-boca: quanto mais nos demoramos num estado, mais presos ficamos a esse estado. Aproveitando uma expressão feliz, que parafraseamos, ficardes à espera que alguém de fora de vós vos arranque dos nossos dilemas e vos ponha no fluxo da força da vida espiritual é a espera pelo milagre dos preguiçosos.

Esta questão conduz à muito pertinente do autoconhecimento. Enquanto o homem se vir essencialmente como um corpo físico mortal é refém do materialismo, que na realidade está mais arraigado no cerne do que possa parecer, e, portanto, causa um viés cognitivo de base que produz erros de autoavaliação generalizados. É imperativa a modificação da visão pessoal de si mesmo, é imperativo que o homem se veja como um ser espiritual em experiências corpóreas. Não faltam propostas nesse sentido - só que apelar ao medo não muda ninguém e falar de reforma íntima e esquivar-se à tarefa de se melhorar a si mesmo não convence ninguém a fazê-lo.

O “conhece-te a ti mesmo” foi-vos oferecido como chave para o crescimento espiritual, e o resto da frase de onde foi tirado o aforismo acrescenta e conhecerás os deuses e o universo”. É ainda o princípio de que o todo está presente nas partes, mas não será também a sugestão de que quem domine a invisibilidade, a levitação, a cura e a telepatia conhece e domina as leis que as regem? A força mental e a vontade agem sobre a matéria a nível molecular, e sobre a substância que compõe o perispírito, transformando, recriando, mudando aspectos da realidade. E não foi dito também que o homem compreenderá melhor algumas das perfeições de Deus, entrevendo-as pelo pensamento, à proporção que se eleva acima da matéria?

Já não importa tanto saber se é ou não um processo da kundalini. Da maneira fácil como vem sendo apresentado parece um processo susceptível de ser executado como que por artes mágicas ou, até, mercantilizado. O abastardamento do yoga e da meditação podem fazer da kundalini uma energia perigosa – tal como se tornam perigosos o reiki, o magnetismo ou qualquer outra terapia energética nas mãos de gente impreparada.

Equalizar as polaridades e unificar o masculino com o feminino (a dualidade exposta pelo popular yin e yang. Ou positivo e negativo – as cargas positivas e negativas dos campos electromagnéticos) é tarefa de múltiplas experiências. A teoria explica, mas não faz. Então, conhece-te a ti mesmo, sem subterfúgios inúteis. E não procrastines.


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