À conversa com Espíritos - VI


- Foi demonstrado experimentalmente que a comunicação com os Espíritos pode ser induzida em qualquer pessoa com taxa de sucesso muito próxima dos 100%, não importando que o sujeito acredite na comunicação após a morte, seja religioso, agnóstico ou ateu, nem é limitada a quem tenha tido uma relação pessoal com o falecido. Isto pode ser lido como prova de que todos somos médiuns, mas também pode ser visto como uma nova modalidade para substituir a velha, que está saturada de ignorância, misticismo, animismo, egotismo e fraude.

Perspectiva-se uma mudança de paradigma?


- Desde que há gente há mediunidade, e os factos da História têm interferência interdimensional. A partir desta premissa que liga o visível ao invisível, a primeira linha de pensamento de Kardec levou-o a que todos aqueles que de uma maneira ou outra sentem a presença de Espíritos são médiuns. Mais tarde, porém, apertou a malha deste raciocínio e definiu a mediunidade como um estado mais ostensível dessa sensibilidade.

Sendo a mediunidade uma faculdade inerente ao ser humano, como qualquer outra faculdade também ela está sujeita à lei de progresso. Se nuns “se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade”, e como isso “depende de uma organização mais ou menos sensitiva”, não significa que em estado latente seja quantitativa e qualitativamente inferior à ostensiva. Tanto assim é que não raro é vista eclodir inesperadamente onde não se a supunha. Os estímulos provocam respostas; em existindo predisposição orgânica (nem toda a gente possui essa predisposição) se a mediunidade latente for estimulada, ela responde.

Como não se pode separar a mediunidade, em si neutra, do homem, aquela fica exposta à trapaça se o homem é trapaceiro. As qualidades do homem, a reflectirem-se em todos os momentos e acções, também se reflectem na mediunidade, como é natural. É como que ionizada. Não surpreende, pois, que se encontrem qualidades duvidosas expostas na mediunidade, já que também estão expostas nos demais aspectos da vida do médium. Mas, claro, se aumenta a virtude do homem, melhora a qualidade mediúnica, afastando-se cada vez mais do misticismo, do egotismo e da fraude.

Merece o animismo um tratamento à parte, porque sendo animismo a manifestação da “alma” do próprio médium se esta simplesmente deixasse de todo o corpo este seria um cadáver, um inerte incapaz de transmitir informação. Assim sendo, mesmo no médium onde se produz o melhor desprendimento não deixa a sua própria alma de pôr a sua “impressão digital” na informação. O grau desta interferência é, digamos, e passe a expressão, variável ao infinito. Não é intencional, pelo que não é classificável como fraude, e se “mancha” o pensamento do comunicante pode, em alguns casos, ao invés de malsinar forma e conteúdo beneficiar uma e outro. Basta para tanto que o nível intelectual e moral do médium seja superior ao do Espírito. A medição da fidedignidade dificilmente será exacta.

Ainda no território do animismo importa referir a variante “mediunidade sonambúlica”, assim descrita: “Configura-se nos médiuns que em estado de sonambulismo são assistidos por Espíritos. Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas ordens de fenómenos que frequentemente se acham reunidos. O sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento, enquanto que o médium exprime o de outrem. Mas, o Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita essa comunicação.” Esta variante reiteradamente desvalorizada é, no entanto, usual na psicofonia e na psicografia.

A evolução é um processo lento e regular. Não invalida, porém, que pontualmente uma qualquer área seja sujeita a um impulso suplementar, seja para acompanhar as restantes, seja para não se arrastar indefinidamente no tempo uma situação degradada e penosa. A experiência referida demonstra mais a emancipação da alma, que nesse estado conversa familiarmente com os Espíritos seus iguais, tal como no estado de vigília conversa com os homens. (Todos, sem excepção, podem falar com os Espíritos pelo pensamento – para muitos pela prece – e deles receber resposta sob a forma de intuições. Mas com a mediunidade, em sentido estrito, há um intermediário: o médium.) É experiência semelhante a de hipnoterapeutas, por exemplo, que se têm confrontado com “estranhezas” que acontecem com pacientes sob indução hipnótica, os quais encetam diálogos à margem da condução do terapeuta, diálogos esses que pela coerência, carga emocional e riqueza de pormenores levam a crer que envolvem seres invisíveis reais.

de que na génese do espiritismo esteve a mediunidade de efeitos físicos, e teve o seu tempo de importância, mas na actualidade vigora a de efeitos intelectuais. O surgimento de novas nuances não destrói a faculdade, antes a enriquece. E, sim, há uma mensagem implícita que já vos vem sido repetidamente dita desde há muito, que é não procurar fora o que está dentro. Quem tiver ouvidos que ouça.

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