À Conversa com Espíritos - II


- Os Espíritos trouxeram a Kardec o conceito de perispírito sem mencionar a sua composição de várias camadas, tal como é descrito por outras doutrinas e tradições esotéricas milenares. É irrelevante a subdivisão? Perispírito refere-se tão somente ao corpo astral? Desconhecimento das camadas? As doutrinas e tradições esotéricas milenares estão equivocadas?


- Para dar uma resposta o mais cabal possível, temos de tecer uma ou outra consideração prévia.

A primeira: Allan Kardec, como estudioso que era – e foi-o em tantas áreas do saber - por certo conhecia as filosofias orientais e os corpos subtis nelas mencionados; a segunda: o contexto histórico em que surgiu o Espiritismo. Com efeito, naquela segunda metade do século XIX as crenças religiosas e a ignorância da vida espiritual não eram, na Europa, favoráveis ao entendimento de conceitos “esotéricos”, quanto mais de descrição complexa.

Posto isto, atentemos agora na pergunta de Kardec e na resposta dos Espíritos. Dizem assim, textualmente:

«- O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?

- Envolve-o uma substância, vaporosa para ti, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.»

Como se constata, ambas não afirmam a existência de camadas, mas também não a negam, e a essa substância envolvente não lhe chamam perispírito. Perispírito foi o termo que posteriormente Allan Kardec cunhou para o envoltório (e já percebido desde tempos imemoriais sob diferentes designações), que o mesmo justificou do seguinte modo: «Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, um envoltório que, por comparação, se pode chamar perispírito, envolve o Espírito propriamente dito.» Esta é, pois, uma maneira fácil de entender algo que exige alguma vivacidade mental, e em que se torna mais importante a aplicação que se faz do conhecimento do que do conhecimento em si.

O ensinamento milenar das doutrinas orientais e o do Espiritismo acerca do envoltório subtil só é diverso à primeira vista.

Já as extrapolações são mais sedutoras que sólidas, tenham origem em Espíritos embusteiros ou em homens vaidosos e sensacionalistas. A fantasia, o misticismo, a não racionalidade, fracassarão. Aguardemos pela ciência, que fará o seu trabalho e confirmará ou refutará as teorias – mas não estão erradas as filosofias e religiões orientais nem o Espiritismo.

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