À conversa com Espíritos - I


- Sendo os grupos mediúnicos de vital importância na ajuda aos Espíritos, dado ser recente (menos de duzentos anos) a existência sistemática de tais grupos, nos milhares de anos que os antecederam os Espíritos não foram ajudados?

- Desde que há gente, há mediunidade. Dos Vedas à Bíblia, o Egipto dos faraós, a Grécia Antiga, a Roma imperial, o xamanismo omnipresente, eis alguns exemplos da exaltação do mediunismo. Outrora como agora, individualmente ou em grupo, melhor ou pior, os médiuns têm feito a ponte entre os dois mundos. Cada tempo com o seu entendimento e o seu modo de o expressar.

O culto dos mortos sempre existiu entre os povos, admitindo, portanto, a sobrevivência da alma. Os símbolos e os rituais dos cultos servem como catalisador do pensamento e da vontade em determinada direcção aqui na dos ditos “mortos” -, sendo que o que conta é o pensamento (os pensamentos são coisas) e a intenção.

Assim, se os pensamentos forem bons ajudarão, em maior ou menor menor medida, aqueles a quem são dirigidos; se os pensamentos forem maus castigarão, também em maior ou menor medida, os destinatários.

Tem sido assim e assim continuará a ser. No caso dos grupos mediúnicos, estes são de tanto mais vital importância quanto mais puros forem os pensamentos que os animam, mas também é certo que não podem transmitir aos outros o que não possuem.



- Enraizou-se no movimento espírita que há colónias espirituais repletas de maravilhas tecnológicas, hospitais e escolas como ainda não se viram na Crosta, enfim, uma série de coisas que aqui só podemos invejar. Mas a ser assim o nosso trabalho em favor da saúde e do esclarecimento dos Espíritos torna-se redundante, tal como o estágio nas colónias (conceito em contradição com o de erraticidade definido por Kardec) se revela despiciendo, porque o que se verifica é que na reencarnação ulterior o Espírito parte de onde parou na desencarnação que a antecedeu. Ou será que o Além não é como uma certa literatura o pintou e introduziu no espiritismo?


- A teoria das colónias espirituais foi trazida ao Espiritismo por um só Espírito; importa, por isso, perguntar: a validação desta teoria obedeceu ao critério da concordância universal do ensino dos Espíritos? Perguntamos também: foi feita a análise comparada com o consignado n’O Livro dos Espíritos, itens sobre “mundos transitórios” do capítulo dedicado à vida espírita? Na verdade, nem outros Espíritos vieram corroborar a teoria nem ela, tal como está formulada, encontra apoio na doutrina espírita.

Não é fácil desapegar-se da teologia que divide o “Além” em três regiões distintas, a saber, o Céu, o Inferno e o Purgatório. Se Dante em A Divina Comédia poetou a vida no mundo espiritual a partir desta divisão tripartida, a fantasia formatada pelo catolicismo dos autores espiritual (Espírito) e material (médium) desta teoria não conseguiram melhor que Trevas, Umbral e Luz, e sem conseguir dar vida de Espírito aos Espíritos, isto é, sem os libertar dos mais estritos condicionamentos materiais de enquanto encarnado.

São inúmeras as faixas, ou planos, ou esferas em que se movimentam os Espíritos. Não há necessidade de erguer muros a protegê-las, porque estão naturalmente protegidas pela sua própria frequência vibratória. O de uma vibração inferior não invade uma superior só porque lhe apetece. Não consegue, simplesmente.

Ao desencarnar, cada qual “aterra” naquela com que tem afinidade vibratória. Como o pensamento é criador, cada um cria a sua própria realidade, que pode ser uma num momento, e outra no momento seguinte. A nova física tem o salto quântico em que o electrão salta (instantaneamente) de uma órbita para outra sem percorrer o espaço intermédio entre as órbitas; serve o paradoxo de analogia para descrever a passagem do Espírito de uma faixa, ou plano, ou esfera para outra, mediante a mudança de realidade criada (pelo pensamento).

Sim, os Espíritos reúnem-se por afinidade e têm organizações. Nas faixas, ou planos, ou esferas inferiores é possível também vê-los unidos por más intenções, mas o desígnio que impera do superior para o inferior é o de ajuda nas dores e na ignorância. Porém, são dispensáveis palácios, templos e toda a sorte de edifícios para o fazer. Continua a haver matéria (há sempre matéria, por mais quintessenciada que seja), mas não havendo necessidade não se dá lugar ao desperdício.

Aquela suposta casa de Mozart em Júpiter, desenhada por Sardou, Kardec incluiu-a na Revista Espírita como mero objecto de estudo, como se pode constatar pelas ressalvas que lhe juntou, e não lhe deu seguimento. Antecipando o relato de André Luiz, [(e “Nosso Lar” tem tanta e tão estranha semelhança descritiva com “A Vida Além do Véu”, de George Vale Owen, publicada uns anos antes!)], já Swedenborg, justamente considerado um percursor do Espiritismo, descreveu das suas visões do mundo espiritual aquela em que constam cidades. O que nos ocorre dizer é que no melhor pano cai a nódoa. Quando os médiuns se deslumbram consigo próprios, facilmente se instala a indistinção entre o que é da clarividência e o que é da imaginação.

















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