Factos mediúnicos de efeitos físicos


«Muitíssimo preferíveis são, a meu ver, os factos mediúnicos de índole mais íntima e modesta, as sessões em que predominam a ordem, a harmonia, a comunhão de pensamentos, por cujo veículo fluem as coisas celestes, como orvalho, sobre alma sequiosa e a esclarecem, confortam e melhoram. As sessões de efeitos físicos, mesmo quando sinceras, sempre me deixaram uma impressão de vácuo, de desgosto e mal-estar, em razão das influências que nelas intervêm.» (Léon Denis, No Invisível)


Nas sessões de efeitos físicos, nomeadamente as materializações, os Espíritos que nelas intervêm são os considerados inferiores. Nestes, mesmo que amistosos, a vibração não é das melhores, em razão dessa mesma inferioridade. Daí as impressões enumeradas por Léon Denis.

Deve-se, porém, reconhecer a importância das materializações, nomeadamente as de Espíritos, que obtidas sob rigorosas condições de controlo1 provam entre outras coisas a imortalidade do ser,2 mas depois dessa prova só fica o entretenimento, o que torna já as materializações desnecessárias.

Acresce ainda, e é isto que agora mais nos importa, que as manifestações de efeitos físicos são, pelo impacto, as que mais estimulando o orgulho e a vaidade mais se desejam produzir.3 Por esse motivo, pelo orgulho e vaidade estimulados, quando os Espíritos e a faculdade mediúnica não os produzem a fraude entra em acção, e aquilo que foi autêntico fica um número de circo. A história da mediunidade de efeitos físicos conta com mais casos de fraude comprovados do que os desejáveis, e se nos dias de hoje este fenómeno perdeu frequência não deixa, todavia, de acontecer, como não deixa de acontecer o recurso à fraude quando não sucede naturalmente.4

Outro facto mediúnico de vulto (se é que o é, no todo ou em parte) é a levitação. É um fenómeno espectacular, que serviu como prova de santidade para a canonização de uma vintena ou mais de levitadores, e que tem exemplos significativos nos mais diversos quadrantes ideológicos, o que talvez aponte mais para uma predisposição orgânica do que para uma disposição psicológica, embora possam estar ligadas.

No território dos factos mediúnicos de efeitos físicos chocantes não podemos deixar de lado o poltergeist, que escapa ao domínio de experimentadores e que pode atingir proporções assustadoras. São conhecidas as causas e os meios deste fenómeno impressionante e, portanto, podem ser anuladas por pessoas competentes.5

Nem tudo partilho com Leon Denis porque “O fechamento perceptivo não implica o fechamento cognitivo, uma vez que temos disponível o processo de formação de hipóteses, no qual se conceptualizam inobserváveis.”6 e nisto da mediunidade há (ainda) muitos inobserváveis, mas partilho que para diminuição de risco no exercício da mediunidade são preferíveis os factos mediúnicos de índole mais íntima e modesta, que podem não encher os olhos mas enchem o coração. Deslumbramento não combina com sagacidade.


1 Veja-se as obtidas por William Crookes.

2 Há quem tudo negue apesar das evidências. Terão a sua utilidade, sei lá, tal como no outro extremo a terão aqueles que em tudo acreditam sem qualquer evidência.

3 Incluamos nos efeitos físicos a pintura mediúnica. Na vintena de psicopictógrafos que facilmente se encontra numa pesquisa na Internet, não há um que não receba a mesma meia dúzia de pintores do impressionismo. Soberbo! Mas coitados dos milhares de pintores desencarnados que não pertenceram à escola impressionista e ficaram sem meio nem oportunidade de se mostrarem ao mundo das formas, onde as aparências valem mais que a realidade.

4 O caso Uri Geller. Remeto para https://amenteemaravilhosa.com.br/uri-geller-fraude-coletiva/ a quem tiver curiosidade e queira conferir.

5 Associados a fenómenos de polstergeist mas famosos por todo um conjunto de efeitos físicos temos, a título exemplificativo, os quase paradigmáticos Carmine Mirabelli e Francesco Forgione (padre Pio de Pietrelcina).

6 Colin McGinn, artigo “Será que Podemos Resolver o Problema Mente-Corpo?”

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