Da encarnação nos diferentes mundos


«- Nossas diferentes existências corpóreas se passam todas na Terra?

Não, mas nos diferentes mundos. As deste globo não são as primeiras nem as últimas, mas as mais materiais e distanciadas da perfeição.»


        Se é verdade que a Terra é um mundo dos mais materiais e distanciados da perfeição, e só pode ser verdade, então o entendimento de Deus, da vida espiritual, das leis morais, e de tudo em geral, não pode exceder esse atraso, senão não seria dos mais materiais e distanciados da perfeição. Posto isto, pretender alguém que já tem a última palavra sobre seja o que for é completa tontice. Pretender também que já encarnou entre nós a figura mor do sistema planetário é não ter noção do desperdício que isso representa na economia divina.

        Ainda não saímos do relativo, por manifesta incapacidade de entender o absoluto. Deixemo-nos de ilusões, sejamos humildes e aceitemos a pequenez, só assim podemos crescer. O orgulho cega para a realidade e estagna, mantém este mundo indefinidamente no atraso.

        Este estado mental aplica-se também no que concerne à relação com alienígenas, que não se mostram, ou deixaram de se mostrar, porque esta gente terráquea de instinto assassino com as armas que desenvolveu tornou-se extremamente perigosa.


«- Os Espíritos podem renascer corporalmente num mundo relativamente inferior àquele em que já viveram?

Sim, quando têm uma missão a cumprir, para ajudar o progresso; e então aceitam com alegria as tribulações dessa existência porque lhes fornecem um meio de se adiantarem.»


        O estado de atraso da Terra na escala dos mundos não impede que a nele renasçam corporalmente Espíritos de mentalidade mais esclarecida para ajudar o progresso, mas ainda e sempre eles próprios imperfeitos, porque não faz sentido que seja de outra maneira pela injustiça que seriam as tribulações a que necessariamente se sujeitam, e Deus é infinitamente justo1, sendo, portanto, também para eles meio de se adiantarem.

            Embora haja a tendência de ver missionários nos médiuns, eles não o são mais que o definido no sentido geral do termo, que inclui todos os viventes, porque todos têm uma incumbência, seja ela maior ou menor. Tal como todos somos médiuns. E aquilo que mais se verifica nos médiuns ostensivos é que têm sobretudo de desincumbir-se em relação a encargos com a consciência, o que não é obra de pouca monta. O estado iluminativo que muito gostamos de ver neles pode ser entendido como uma forma de transferência reversa psicológica, i.e., ver neles não o que são mas o que desejaríamos ser.


«- É-nos possível conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes mundos?

- Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais. Quer dizer que não devemos revelar estas coisas a todos, porque nem todos estão em estado de compreendê-las e semelhante revelação os perturbaria.»


          Aqui os Espíritos deviam ter deixado um alerta acrescentando na resposta que também só podiam responder de acordo com o grau de adiantamento em que se encontram, e que não deveriam andar a falar do que não sabem, ou a falar com base no achismo, ou simplesmente a darem respostas à toa a curiosidades vãs. Mas os Espíritos são gente como a gente e, logo, com os mesmos vícios e virtudes que os homens, sendo, tal como na gente, ainda mais os vícios que as virtudes.2


1 Talvez para evitar a antinomia é que se vai defendendo a tese do corpo fluídico de Jesus para que o sofrimento seja só aparente e não real. A outra versão explicativa é que sendo ele Deus e não podendo nem devendo sofrer tomou a cruz que nos cabia (de todos ou só dos que o aceitam nessa condição?) para remir os nossos pecados (ou só o pecado original, por acaso inexistente?). Cada um acredita naquilo que está capaz de pelo entendimento aceitar.

2 Para os mais preguiçosos que não querem ir procurar e reler o texto A propósito de comunicações mediúnicas, aqui deixo: «Se há entidades espirituais superiores que proíbem os espíritos comunicantes de revelar certos segredos do Além, para os quais a humanidade não está preparada, fica então subentendido que as mesmas entidades permitem aos espíritos em questão suprir com mentiras a curiosidade dos vivos… (etc)»

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