A Adoração e as Religiões do Livro


«- Em que consiste a adoração?

- Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela adoração, aproxima o homem sua alma

«- Tem Deus preferência pelos que O adoram desta ou daquela maneira?

- Deus prefere os que O adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-Lo com cerimónias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes.

Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a Si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam.

É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos actos exteriores. Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é afectada e contradiz o seu procedimento.»


            Ora aí temos as Religiões-do-Livro, com os seus estudiosos e exegetas, que produzem seres que fazem lamentações com ou sem Muro, ou ajoelham virados para Meca, ou persignam-se diante da Cruz, e a seguir vão tranquilamente para a rotina diária de toda a sorte de pensamentos malsãos – e correspondentes obras.

        Ora aí temos as Religiões-do-Livro, com os seus improdutivos profissionais, que dizendo-se representantes de Deus sentem-se no direito de também serem adorados, e vestem-se com longas vestes pretas ou vermelhas, que são as cores com que se pinta o Diabo, para não os confundirem com comuns mortais.

        Ora aí temos as Religiões-do-Livro, naturalmente fascistas, viveiros de fanáticos, hipócritas e libidinosos unidos no beatério.

         Ora aí temos as Religiões-do-Livro, cancros com milhares de anos de rituais, cerimónias, mistérios e litanias, que enquanto durarem adoecem a humanidade. Reconheça-se: são também consequência dos indivíduos que as mantêm activas, mas tal só demonstra a distância a que as religiões se encontram d’Aquele em nome de que falam.

        Ora aí temos as Religiões-do-Livro, orgulhosas e sectárias, que na sua insensatez rejeitam a liberdade e andam no mundo como espectros ameaçadores. Anacrónicas (tal como a monarquia, o braço secular da Coisa), perpetuam-se poderosas e opressoras fomentando o medo e a ignorância.

        Fala-se muito em Nova Era1, mas como querem construir algo novo com ideologias contrárias ao fim? Como querem um mundo fraterno e solidário mantendo nele quem sempre esteve do lado do egoísmo e da desigualdade? Como querem um mundo progressista e pacífico mantendo nele quem sempre foi reaccionário e violento?

Que adoração têm prestado a Deus ao longo dos séculos as Religiões-do-Livro?


1 Há uma grande confusão entre a nova era astronómica, que está perto, e a nova era da humanidade onde não há guerras nem se morre de fome, e que, como é óbvio, está distante.

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