À Conversa com Espíritos - XXVII
- Lendo os escritos de Mesmer constata-se que o magnetismo animal não é uma teoria fluidista (fluido vital), sim um estado de vibração do fluido universal, a fonte primária de todas as forças e de toda a matéria. O que Mesmer chamava de ton de movimento pode, segundo os conceitos actuais da física, ser definido como uma acção dinâmica produzida por uma função de onda vital. Esta é uma ideia que se abraça sem receio e explica satisfatoriamente a cura, o sonambulismo, a mediunidade, o hipnotismo, e também explica a homeopatia, que igualmente é vitalista.
A ser assim: 1) a elevada capacidade de cura de algumas pessoas não tem a ver com capacidade fluídica, mas sim com a elevada frequência vibratória que possuem; 2) para não haver incompatibilidade conceitual, quando Kardec diz, grosso modo, que numa cura o que há é uma modificação molecular deve inferir-se que a vibração dirigida pela vontade do operador estimula no sujet essa alteração, o que reforça a tese, defendida por Mesmer, Hahnemam, Kardec e outros, de que a cura é essencialmente um processo de auto-cura.
É assim?
“Na
acção magnética propriamente dita, é o fluido pessoal do magnetizador que é
transmitido, e esse fluido, que não é senão o perispírito[2]”, constituído por fluidos
planetários derivados do fluido universal,
e não, conforme consideravam os fluidistas, uma substância isolada
fluido vital a partir da qual dava-se uma acção material e mecânica do magnetismo
animal, entendimento erróneo que ainda paira como uma sombra sobre o
magnetismo.
Em
Obras Póstumas [Introdução ao
Estudo da Fotografia e da Telegrafia do Pensamento] pode ler-se: “As diferentes
atmosferas individuais se entrecruzam e misturam, sem jamais se confundirem,
exatamente como as ondas sonoras que se conservam distintas, a despeito da
imensidade de sons que simultaneamente abalam o ar. Pode-se, por conseguinte,
dizer que cada indivíduo é centro de uma onda fluídica, cuja extensão se acha
em relação com a força da vontade, do mesmo modo que cada ponto vibrante é
centro de uma onda sonora, cuja extensão está na razão propulsora do fluido,
como o choque é a causa de vibração do ar e propulsora das ondas sonoras.”
Donde, o que temos aqui manifesto é a hipótese dinâmica ou ondulatória.
Veja-se ainda: “[RE, Set65. Ibid.] A vontade é ainda omnipotente para dar aos fluidos
as qualidades especiais apropriadas à natureza do mal. Este ponto, que é
capital, liga-se a um princípio ainda pouco conhecido, mas que está em estudo:
o das criações fluídicas e das modificações que o pensamento pode produzir na
matéria. O pensamento, que provoca uma emissão fluídica, pode operar certas
transformações, moleculares e atómicas, como se vêem
ser produzidas sob a influência da eletricidade, da luz ou do calor.”
Escreve Delanne [A Alma é Imortal]: “Uma ciência só se acha verdadeiramente
constituída quando pode verificar, por meio da experiência, as hipóteses que os
factos lhe sugerem. O Espiritismo tem direito ao nome de ciência, porque não se
há limitado à simples observação dos fenómenos naturais que revelam a
existência da alma durante a encarnação terrena e depois da morte. Todos os
processos ele empregou para chegar à demonstração de suas teorias e pode
dizer-se que o magnetismo e a ciência pura lhe serviram de poderosos auxiliares
para firmar a exactidão de seus ensinos.”
Sendo a mediunidade curadora tanto mais activa quanto
maior a frequência vibratória do Espírito encarnado deixa, como tal, de ser uma
faculdade para ser vista como uma aquisição própria; e sendo a autonomia [autonomia: intimamente ligada à liberdade individual
e à capacidade de tomar decisões racionais] princípio ético do espiritismo, naturalmente entende que as conquistas e os prejuízos são méritos
ou deméritos de cada um. Para haver cura tem de haver melhoria moral e a
melhoria moral obtém-se às expensas de conhecimento. É a “vis medicatrix naturae”
– processo natural de cura do próprio doente. Ainda nenhuma receita diferente
desta foi mágica.
[1] Em vários momentos A. Kardec aceitou a hipótese do fluido vital, porque
esse era o entendimento dominante na
ciência da época, e por isso se encontra a expressão ao longo da obra.
Porém, concatenando o ensino progressivo dos Espíritos sobre o assunto
abandonou a teoria, actualmente sem validade científica.
[2] Voltaremos ao tema.
O perispírito, nas suas constituição e propriedades, assim como a natureza, a
função e a importância do ectoplasma têm de ser esclarecidas.
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