À Conversa com Espíritos - XXVII


- Lendo os escritos de Mesmer constata-se que o magnetismo animal não é uma teoria fluidista (fluido vital), sim um estado de vibração do fluido universal, a fonte primária de todas as forças e de toda a matéria. O que Mesmer chamava de ton de movimento pode, segundo os conceitos actuais da física, ser definido como uma acção dinâmica produzida por uma função de onda vital. Esta é uma ideia que se abraça sem receio e explica satisfatoriamente a cura, o sonambulismo, a mediunidade, o hipnotismo, e também explica a homeopatia,  que igualmente é vitalista.

A ser assim: 1) a elevada capacidade de cura de algumas pessoas não tem a ver com capacidade fluídica, mas sim com a elevada frequência vibratória que possuem; 2) para não haver incompatibilidade conceitual, quando Kardec diz, grosso modo, que numa cura o que há é uma modificação molecular deve inferir-se que a vibração dirigida pela vontade do operador estimula no sujet essa alteração, o que reforça a tese, defendida por Mesmer, Hahnemam, Kardec e outros, de que a cura é essencialmente um processo de auto-cura.

É assim?

 

 - Vamos às fontes, tudo o que é necessário está lá. Assim, na Revista Espírita de Janeiro de 1869 [Estatística do Espiritismo] consta: “Em todos os tempos os magnetistas foram divididos em dois campos: os espiritualistas e os fluidistas. Estes últimos, muito menos numerosos, pelo menos fazendo abstração do princípio espiritual, quando não o negam absolutamente, referindo tudo à acção do fluido material, estão, por conseguinte, em oposição de princípios com os espíritas.”[1] Porém, em ocasião anterior [RE, Set65. Mediunidade Curadora] diz: “Sendo o fluido humano menos activo, exige uma magnetização continuada e um verdadeiro tratamento, por vezes muito longo. Gastando o seu próprio fluido, o magnetizador se esgota, pois dá de seu próprio elemento vital; é por isto que ele deve, de vez em quando, recuperar suas forças. O fluido espiritual, mais poderoso, em face de sua pureza, produz efeitos mais rápidos e, muitas vezes, quase instantâneos. Como esse fluido não é o do magnetizador, resulta que a fadiga é quase nula.” Então, há fluido ou não há fluido?

“Na acção magnética propriamente dita, é o fluido pessoal do magnetizador que é transmitido, e esse fluido, que não é senão o perispírito[2], constituído por fluidos planetários derivados do fluido universal,  e não, conforme consideravam os fluidistas, uma substância isolada fluido vital a partir da qual dava-se uma acção material e mecânica do magnetismo animal, entendimento erróneo que ainda paira como uma sombra sobre o magnetismo.

Em Obras Póstumas [Introdução  ao Estudo da Fotografia e da Telegrafia do Pensamento] pode ler-se: As diferentes atmosferas individuais se entrecruzam e misturam, sem jamais se confundirem, exatamente como as ondas sonoras que se conservam distintas, a despeito da imensidade de sons que simultaneamente abalam o ar. Pode-se, por conseguinte, dizer que cada indivíduo é centro de uma onda fluídica, cuja extensão se acha em relação com a força da vontade, do mesmo modo que cada ponto vibrante é centro de uma onda sonora, cuja extensão está na razão propulsora do fluido, como o choque é a causa de vibração do ar e propulsora das ondas sonoras.” Donde, o que temos aqui manifesto é a hipótese dinâmica ou ondulatória.

Veja-se ainda:[RE, Set65. Ibid.] A vontade é ainda omnipotente para dar aos fluidos as qualidades especiais apropriadas à natureza do mal. Este ponto, que é capital, liga-se a um princípio ainda pouco conhecido, mas que está em estudo: o das criações fluídicas e das modificações que o pensamento pode produzir na matéria. O pensamento, que provoca uma emissão fluídica, pode operar certas transformações, moleculares e atómicas, como se vêem ser produzidas sob a influência da eletricidade, da luz ou do calor.”

Pensamento e vontade são substâncias ou  forças da alma? Princípio espiritual e princípio material são criações distintas; a alma a qual pertence? Se são criações distintas, de uma não se origina a outra, nem se transformam uma na outra. Interagem mas  não se homogeneizam.
Portanto,  a emissão fluídica provocada pelo pensamento e pela vontade é nem mais nem menos que o efeito da transmissão de uma vibração da alma ao fluido universal. (Não esquecer que “ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer acção sobre ela” [LE 27].) Não se arrisca demasiado se afirmar-se que tudo é vibração, toda manifestação são ondas. O fluido cósmico universal é «cósmico» porque permeia o cosmo, e é «universal» porque permite todas e quaisquer modificações.

Escreve Delanne [A Alma é Imortal]:Uma ciência só se acha verdadeiramente constituída quando pode verificar, por meio da experiência, as hipóteses que os factos lhe sugerem. O Espiritismo tem direito ao nome de ciência, porque não se há limitado à simples observação dos fenómenos naturais que revelam a existência da alma durante a encarnação terrena e depois da morte. Todos os processos ele empregou para chegar à demonstração de suas teorias e pode dizer-se que o magnetismo e a ciência pura lhe serviram de poderosos auxiliares para firmar a exactidão de seus ensinos.”

Sendo a mediunidade curadora tanto mais activa quanto maior a frequência vibratória do Espírito encarnado deixa, como tal, de ser uma faculdade para ser vista como uma aquisição própria; e sendo a autonomia [autonomia: intimamente ligada à liberdade individual e à capacidade de tomar decisões racionais] princípio ético do espiritismo, naturalmente entende  que as conquistas e os prejuízos são méritos ou deméritos de cada um. Para haver cura tem de haver melhoria moral e a melhoria moral obtém-se às expensas de conhecimento. É a “vis medicatrix naturae” – processo natural de cura do próprio doente. Ainda nenhuma receita diferente desta foi mágica.

 

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