À Conversa com Espíritos - XXIX 


- As questões 42 e 48  d’O Livro dos Espíritos têm respostas insatisfatórias.  Dizem assim:

«42 - Podemos conhecer a duração da formação dos mundos, como a Terra, por exemplo?

- Não posso dizer-lhe, porque somente o Criador o sabe, e bem louco seria aquele que pretendesse saber ou conhecer a duração dessas formações desde o seu início.»

«48 -  Podemos conhecer a época da aparição do homem e dos outros seres vivos sobre a Terra?

- Não; todos os seus cálculos científicos são especulativos.»

Atendendo às perguntas e às respostas tal como são dadas, conclui-se que nunca poderemos conhecer a duração da formação da Terra nem a época da aparição do homem e dos outros seres vivos sobre a Terra. Por esta ordem de ideias, também podemos dizer que nunca iremos à Lua nem descobriremos a fissão e a fusão nuclear, mas o facto é que já fomos à Lua e dominamos os processos nucleares.  Para bem da coerência lógica com o conjunto do ensino dos Espíritos devemos entender que na questão 42 o Espírito respondeu condicionado pela sua ignorância sobre o assunto, e na 48 apenas devemos entender que nesse final de século XIX ainda não se podia conhecer?

 

 - O Livro dos Espíritos [daqui em diante LE], questão 19: «Não pode o homem, pelas investigações científicas, penetrar alguns dos segredos da Natureza?

“A Ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas; ele, porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu.”»

Comentário: se é para adiantamento em todas as coisas, quem sabe quais os limites? Quem os estabelece não são certamente as criaturas, sejam homens ou Espíritos. 

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LE, questão 18: «Penetrará o homem um dia o mistério das coisas que lhe estão ocultas?

“O véu se levanta a seus olhos, à medida que ele se depura; mas, para compreender certas coisas, são-lhe precisas faculdades que ainda não possui.”»

Comentário: o obstáculo é a imperfeição, que impede o desabrochar de faculdades que permitem sensações ainda desconhecidas e percepções mais elaboradas. A perfeição adquire-se.

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LE, questão 17: «É dado ao homem conhecer o princípio das coisas?

“Não, Deus não permite que ao homem tudo seja revelado neste mundo.”»

Comentário: nem tudo pode ser revelado neste mundo porque o que não se consegue conceber também não se consegue interpretar. Se é o que tem acontecido com coisas simples, o que não seria com coisas complexas?

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LE, questão 11 «Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?

“Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá.”»

Comentário: se um dia se vai compreender o mistério da Divindade, nada mais ficará ininteligível ou oculto. Agora, o que não se entende numa idade entende-se em idade mais avançada, o que não se conhece numa época conhece-se em época posterior, o que não se atinge num mundo atinge-se em mundo mais evoluído.

 [Há algo que raramente é referido: desde 1849 um grupo de pesquisa, frequentado por eminentes personalidades, mas não pelo professor Rivail, e durante cinco anos, questionou os Espíritos sobre as mais diversas questões científicas, filosóficas e  morais. Desse trabalho resultaram 50 cadernos que foram entregues em 1854 ao então ainda professor Rivail. Foi com base neles, após  organização e aprofundamento das questões, que surgiu em 1857 a primeira edição d’O Livro dos Espíritos, com 501 perguntas. Com outros intervenientes podemos imaginar algumas respostas a detalhar noutro sentido.]

 Os caminhos do conhecimento não são lineares, são feitos de avanços e recuos, às vezes parece andarem em círculos, em outras uma ideia fica adormecida até que alguém mais tarde a retome e lhe dê novo impulso; por isso importa dizer que o Espiritismo estando sujeito às vicissitudes da perquirição não é uma doutrina acabada, pelo que devem os espíritas erradicar o dogmatismo do seu discurso.

É errado pensar que os Espíritos que falam aos homens são detentores da plenitude do saber, porque não corresponde à realidade. A morte não transforma um ignorante num sábio, e todos podem comunicar-se.

O espiritismo é filosofia e ciência (sem abdicar, com certeza, da obrigação moralizadora inerente ao conhecimento da vida espiritual).  As suas indagação e experimentação levam à verdade ou não levam à verdade. A maior soma de verdade e a menor soma de falsidade constrói a importância do Espiritismo  no futuro da humanidade; a menor soma de verdade e  maior soma de falsidade dita a ausência de futuro para o Espiritismo. Daí que, seguindo o exemplo de qualquer ciência, teórica ou prática, deve abandonar o que for reconhecido como erróneo e seguir o que  for provado certo, tal como recomendou o mestre lionês.

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