À Conversa com Espíritos - XI


- Allan Kardec é declaradamente a favor das evocações, e apresenta razões válidas para tal. Na actualidade, porque o interesse das reuniões mediúnicas é diferente, estas prioritizam as comunicações espontâneas, o que serve mais o esclarecimento dos Espíritos que se comunicam, sejam quem forem. Ambos os métodos têm vantagens e inconvenientes, mas da observação de evocações quer-me parecer que nestas são mais e maiores os inconvenientes que as vantagens. Agradeço a vossa opinião sobre este assunto.


- A dificuldade que se vos apresenta nas evocações e nas comunicações espontâneas é a mesma: o discernimento. Discernimento e senso crítico aguçado.

Quem se comunica é ou pode ser quem diz ser? Se for alguém que conhecestes e estiverdes a ver, podeis crer na identidade que declina, mas se não conhecestes ou não estiverdes a ver, como julgais? Pela qualidade do que diz ou pelo nome que ostenta? Se vos surge a dúvida testais? Se vos fala do que não sabeis, como avaliais? Simplesmente aceitais como verdade por ter vindo de um Espírito ou deixais em suspenso para posterior comprovação?

Não temos que estar aqui a repetir tudo o que vem n’O Livro dos Médiuns no capítulo sobre evocações, compete-vos a consulta, mas sempre adiantamos: i) evocais ousadamente? Se ides atrás de figuras de renome, isso prenuncia orgulho e o orgulho não é bom conselheiro para receber Espíritos elevados; ii) com que propósito? Se for para substituir o vosso dever de estudar por revelações dos Espíritos, esperam-vos ditos especiosos e, mais cedo ou mais tarde, a consequente decepção; iii) que perguntais? Se não são assuntos pertinentes, de interesse geral, ou uma orientação privada mas necessária, não espereis respostas sérias.

Um estudioso da ciência da alma, Bozzano, [Ernesto Bozzano, Comunicações Mediúnicas entre Vivos] percebeu que é permitido aos Espíritos suprir com mentiras a curiosidade dos vivos e que «as mentiras proferidas em circunstâncias especiais pelas entidades espirituais inferiores também teriam a sua razão de ser, por isso que desorientariam os experimentadores demasiadamente crédulos, obrigando-os a meditar e aprofundar ulteriormente o tema, determinando tréguas providenciais no progresso das pesquisas metapsíquicas, impedindo as intempestivas convicções com base na fé cega, isto com toda a vantagem para os métodos de indagação científica. E, acima de tudo, evitando o perigo de “uma revolução social demasiadamente violenta”, que infalivelmente ocorreria se a nova orientação do pensamento ético-religioso tivesse de impor-se a massas sem preparo, com perniciosa rapidez». É de meditar.

É de meditar também o seguinte: i) no original francês d’O Livro dos Médiuns surge o título alternativo “Guia dos Médiuns e dos Evocadores”, o que diz bem da importância que Allan Kardec atribuía à evocação; ii) numa nota no capítulo XXV 
Kardec regista “a evocação é sempre agradável aos Espíritos, quando feita com fim sério e útil. Os bons vêm prazerosamente instruir-nos; os que sofrem encontram alívio na simpatia que se lhes demonstra; os que conhecemos ficam satisfeitos com o se saberem lembrados, os levianos gostam de ser evocados pelas pessoas frívolas, porque isso lhes proporciona ensejo de se divertirem à custa delas”; iii) a necessidade de médiuns especiais, ao mesmo tempo flexíveis e positivos, que são bastante raros, porque as evocações oferecem mais dificuldades aos médiuns do que os ditados espontâneos, sobretudo quando se trata de obter respostas precisas a questões circunstanciadas, já que as relações fluídicas nem sempre se estabelecem instantaneamente com o primeiro Espírito que se apresente [LM 272]; iiii) mas, como se constata, não tem suporte doutrinário a Orientação ao Centro Espírita, emanada do órgão federativo máximo (o português copia o brasileiro), para excluir em absoluto (o termo usado é “jamais”) a “evocação de qualquer entidade espiritual dentro e fora dos trabalhos”.

Pormenor significativo: o pensamento é tudo e quando pensais em alguém estais a evocar. Por isso, não raras vezes leva-se à conta de “comunicação espontânea” quem de facto veio atraído por um chamamento. Quando iniciais as reuniões evocais os vossos amigos espirituais para vos guiarem e confiais as “comunicações espontâneas” à selecção que eles efectuam. É um procedimento que tem a nossa anuência, porque apesar de estarmos a aprender uns com os outros temos acesso a uma realidade, ou a um aspecto da realidade, para sermos precisos, que não tendes e nos torna mais capazes de conduzir este processo. Mas em circunstâncias apropriadas a evocação nominal é de bom grado permitida.



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