Melancolia
Uma explicação interessante para a existência de estados melancólicos é a que diz que «o Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes.» (ESE V, 25)
Pode ser que sim, e é por isso que para alguns filósofos, com Kierkegaard à cabeça, a melancolia faz parte da condição humana. Porém, em estado moderado, não patológico, não é negativa, pois que incita à criatividade, seja nas artes plásticas, na música, na poesia, na literatura, na filosofia, na teologia… Este lado positivo da melancolia é reconhecido desde a Antiguidade Clássica, chegando Aristóteles a atribuir-lhe a genialidade.
Hodiernamente a melancolia tomou o nome de depressão, e com essa denominação para algum espiritualismo revestiu-se da demonização (de mil anos) da Idade Média, em que a melancolia era antagónica da fé religiosa, e para o materialismo em geral é um mero processo químico, a resolver com fármacos, o que se tem revelado um excelente negócio para a indústria farmacêutica e uma inutilidade para o paciente com melancolia leve e moderada.
A melancolia (ou depressão, fica ao gosto de cada um) faz parte das dores do crescimento; neste crescimento, o mais fácil é o diagnóstico da causa das dores: falta Deus ou falta serotonina. Mas os que apontam uma e outra causa não as conseguem erradicar, nem neles próprios, pelo que é sempre muito fácil falar - e emitir julgamentos. E depois há as muitas e diversificadas propostas terapêuticas ditas alternativas, a maioria delas não somente válidas como superiores à medicina alopática, mas que porque proliferaram com igual sentido mercantilista estão servidas por terapeutas ocos. Estes, além de não saberem lá muito bem o que estão fazer, também ignoram, tal como os prescritores de receitas para aviar na farmácia, que o que serve para um não serve necessariamente para outro. O homem é um ser complexo, e milenar, uma abordagem simplista e unívoca fica sempre aquém da realidade profunda.
Havendo uma aura, ou psicosfera, terrestre, que é a soma dos pensamentos e sentimentos (e acções e intenções) dos insanos terráqueos, e havendo quem sinta psiquicamente essa aura ou psicosfera – e em maior ou menor grau todos a sentem – é de admirar que os Espíritos que somos aspirando à liberdade e à felicidade nos esgotemos jungidos ao corpo que nos serve de prisão?
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