À Conversa com Espíritos - XXXI
- Enraizou-se no movimento
espírita que há colónias espirituais repletas de maravilhas tecnológicas, hospitais e escolas como ainda não se viram
na Crosta, enfim, uma série de coisas que aqui só podemos invejar. Mas a ser
assim o nosso trabalho em favor da saúde e do esclarecimento dos Espíritos
torna-se redundante, tal como o estágio nas colónias (conceito em contradição
com o de erraticidade definido por Kardec) se revela despiciendo, porque o que
se verifica é que na reencarnação ulterior o Espírito parte de onde parou na
desencarnação que a antecedeu. Ou será que o Além não é como uma certa
literatura o pintou e introduziu no espiritismo?
- A teoria das colónias espirituais foi trazida ao
Espiritismo por um só Espírito; importa, por isso, perguntar: a validação desta
teoria obedeceu ao princípio da concordância no ensino dos Espíritos?
Perguntamos também: foi feita a análise comparada com o consignado n’O Livro
dos Espíritos, itens sobre “mundos
transitórios” do capítulo dedicado à vida espírita? Na verdade, nem outros Espíritos vieram corroborar a teoria nem ela,
tal como está formulada, encontra apoio
na doutrina espírita.
Não é fácil desapegar-se da teologia que divide o “Além”
em três regiões distintas, a saber, o Céu, o Inferno e o Purgatório. Se Dante
em A Divina Comédia poetou a vida no mundo espiritual a partir desta divisão
tripartida, a fantasia formatada pelo catolicismo dos autores espiritual
(Espírito) e material (médium) desta teoria não conseguiram melhor que Trevas, Umbral e Luz, e sem
conseguir dar vida de Espírito aos Espíritos, isto é, sem os libertar dos mais
estritos condicionamentos materiais de enquanto encarnado.
São inúmeras as faixas, ou planos, ou esferas em que se
movimentam os Espíritos. Não há necessidade de erguer muros a protegê-las,
porque estão naturalmente protegidas pela sua própria frequência vibratória. O
de uma vibração inferior não invade uma superior só porque lhe apetece. Não
consegue, simplesmente.
Ao desencarnar, cada qual “aterra” naquela com que tem
afinidade vibratória. Como o pensamento é criador, cada um cria a sua própria
realidade, que pode ser uma num momento, e outra no momento seguinte. A nova
física tem o salto quântico em que o electrão salta (instantaneamente) de uma
órbita para outra sem percorrer o espaço
intermédio entre as órbitas; serve o paradoxo de analogia para descrever a
passagem do Espírito de uma faixa, ou plano, ou esfera para outra, mediante a
mudança de realidade criada (pelo pensamento).
Sim, os Espíritos reúnem-se por afinidade e têm
organizações. Nas faixas, ou planos, ou esferas inferiores é possível também
vê-los unidos por más intenções, mas o desígnio que impera do superior para o
inferior é o de ajuda nas dores e na ignorância. Porém, são dispensáveis
palácios, templos e toda a sorte de edifícios para o fazer. Continua a haver
matéria (há sempre matéria, por mais quintessenciada que seja), mas não havendo
necessidade não se dá lugar ao desperdício.
Aquela suposta casa de Mozart em Júpiter, desenhada
por Sardou, Kardec incluiu-a na Revista Espírita como mero objecto de estudo,
como se pode constatar pelas ressalvas que lhe juntou, e não lhe deu
seguimento. Antecipando o relato de
André Luiz, [(e “Nosso
Lar” tem tanta e tão estranha semelhança descritiva com “A Vida Além do Véu”,
de George Vale Owen, publicada uns anos antes!)], já Swedenborg, justamente considerado um percursor
do Espiritismo, descreveu das suas visões do mundo espiritual aquela em que
constam cidades. O que nos ocorre dizer é que no melhor pano cai a nódoa.
Quando os médiuns se deslumbram consigo próprios, facilmente se instala a
indistinção entre o que é da clarividência e o que é da imaginação.
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