À Conversa com Espíritos - XXV


- No catálogo das Revelações adoptado pelo Espiritismo, Moisés é o pilar da primeira. Porém, há sólidas indicações que Moisés, como o conhecemos, é um mito, ou um conjunto de mitos reunidos num só. A ser verdade, é mais um exemplo de que mito e realidade têm psicologicamente o mesmo valor, basta para tal que se acredite na história contada. Mas atendendo a que o Espiritismo tem um compromisso com a verdade, ou não enfatizasse o Espírito de Verdade, não deveria eliminar os mitos do seu seio à medida que os reconhece?


- A linguagem dos mitos é a linguagem dos símbolos, entender a mensagem dos símbolos é passar de uma busca de significado para uma experiência de significado. Como diz um erudito, “os mitos são chaves para as potencialidades espirituais da vida humana.” Por conseguinte, quando a vida em espírito sobrepujar a matéria, a realidade, ou a verdade, será simples de entender, aceitar e viver, e os mitos não serão mais necessários. Mas no estádio evolutivo em que a humanidade deste orbe se encontra retirar-lhe os mitos é retirar-lhe a compreensão do mundo, é desarmonizar-lhe a mundivivência com a realidade. Cada coisa tem que vir a seu tempo e quando as ideias estão maduras para a receber.

Se o Espiritismo tem um compromisso com a verdade? Sim, tem. Mas os povos têm de estar capazes de a aceitar. Se a razão não lhes permite entender, de que adianta servir-lha? Por isso, o Espiritismo se alguns mitos já eliminou a outros que ainda conserva a seu tempo eliminará, já que é gradual e esforçada a aquisição da verdade. O Espiritismo está no mundo, não fora nem acima dele (se assim não fosse não o servia), e obedece às regras ou leis naturais que regem os processos evolutivos, sejam biológicos, intelectuais, morais, individuais, colectivos…

Quanto a Moisés: há, de facto, inverosimilhanças evidentes. E há decalques notórios de histórias mais antigas. Aliás, é frequente esta transferência aquando do encontro e miscigenação de povos. Se estudarem mitos irão encontrá-los replicados na essência em tantas civilizações desencontradas temporal e geograficamente. Significa que: i) há aspirações e intuições comuns à espécie; ii) que estão na mesma categoria de mundo, ainda que possam variar os graus posicionais no intervalo; iii) que a marcha é lenta.

Ter o Decálogo origem em Moisés ou em Josias não lhe muda o valor intrínseco, mas muda a percepção subliminar do povo, que sendo mais veeemente vindo de Moisés tem impacte na alteração comportamental.

Os mitos têm quase sempre um fundo de realidade; aqui a realidade foi, provavelmente, um levita chamado Moshe, em torno do qual sucessivas gerações efabularam. Quem conta um conto...


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