À Conversa com Espíritos - XXII
- É inegável que existe convergência entre a proposta social do Espiritismo e política igualitária, posicionamento que deveria manifestar-se nos espíritas pelo menos na hora de exercer o dever cívico de votar, coisa que pouco acontece. Ou será que para ser considerado espírita basta acreditar na existência dos Espíritos, ignorando as incongruências relativamente aos deveres explícitos e implícitos na doutrina espírita?
- Os pressupostos sociais contidos na obra em geral e n’O Livro dos Espíritos em particular tiveram como efeito imediato nos seguidores de Allan Kardec uma determinada visão, magistralmente exposta por Léon Denis em Socialismo e Espiritismo, visão esta partilhada por Arthur Conan Doyle, em A Nova Revelação, e pelo próprio Kardec em Obras Póstumas, no capítulo “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Mas ilações devem tirá-las cada um. Por isso, além das sugestões anteriores leiam também “Da Lei de Igualdade” [LE, capítulo IX], mas não se fiquem pela superfície, escavem as ideias que as palavras encobrem.
Se alguém diz-se espírita e defende regimes que coarctam as liberdades fundamentais; se alguém diz-se espírita e está do lado dos que promovem desigualdades baseados em organização sexual ou cor da pele; se alguém diz-se espírita e apoia discursos de ódio – ah, esses ainda não foram regenerados pelo espiritismo. Adoptando os princípios do Espiritismo “deve cada um conformar com eles a sua vida e cumprir as obrigações que deles derivam. Quem a eles se esquiva não pode ser considerado como adepto verdadeiro [L. Denis, O Problema do Ser, do Destino e da Dor]”. O espírita tem um dever maior com a sociedade, porque conhece a verdade. A moral não se pode ficar por um conjunto teórico, mas ser uma prática bem visível na acção social.
Mal sabem os que se dizem cristãos que Jesus foi condenado à morte por apelar à liberdade, portanto em desacordo com a tirania de Roma – a Roma imperial que ainda impõe a sua lei -, não por outra coisa. Os regimes totalitários e as ditaduras continuam a crucificar os que defendem a liberdade, a igualdade, a fraternidade, e nos partidários destes regimes abundam os hipócritas interesseiros, e néscios, que afirmam Jesus com a boca e negam-no com as acções. É ainda e sempre o egoísmo, esse liame pervertedor que une poderes políticos e poderes religiosos, que impede a paz e a justiça na Terra.
“Eliminai das leis, das instituições, das religiões, da educação até os últimos vestígios dos tempos de barbárie e de privilégios, bem como todas as causas que alimentam e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso. (...) Somente então os homens compreenderão os deveres e os benefícios da fraternidade e também se firmarão por si mesmos, sem abalos, nem perigos, os princípios complementares, os da igualdade e da liberdade. [OP. Liberdade, Igualdade, Fraternidade]”
No dia em que a moral espírita mover a religião, a política e a jurisprudência, ah, esse será o advento da nova era de justiça e solidariedade. Quando, bem compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais, precisamente porque combate o egoísmo [LE 917]. Os homens se entenderão quando praticarem a lei de justiça [LE 812-a].
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