A reencarnação e o problema do mal


Ao pensar Deus e o problema do mal podemos deparar com o seguinte silogismo: Deus é omnipotente; Deus é sumamente bom; e, ainda assim, o mal existe. Ora, parece haver alguma contradição entre estas três proposições, de tal modo que, se duas quaisquer delas forem verdadeiras, a terceira será falsa.

Decompondo: Se Deus é omnipotente e o mal existe, Deus não é sumamente bom; se Deus é sumamente bom e o mal existe, Deus não é omnipotente; se Deus é omnipotente e sumamente bom, o mal não pode existir.

Em termos lógicos, esta argumentação não apresenta falácia. Assim sendo, e dada a presença real do mal, conclui-se pela inexistência de Deus. Só que para tornar conciliáveis a existência de Deus e a presença do mal no mundo, torna-se necessária uma premissa fundamental: a da existência da reencarnação.

Indissociáveis da reencarnação estão dois princípios, ou leis: o de progresso e o de justiça.

O princípio ou lei de progresso faz com que, entre muitas idas e vindas, aprendamos; o princípio ou lei de justiça faz com que, aplicando a responsabilidade individual e colectiva à liberdade, cada um colha o que semeou. Acções geram reacções , que são retornos.

Se há progresso é porque não fomos criados perfeitos mas somos perfectíveis; se há justiça então não pode haver diferenciação na criação, ou seja, todos e quaisquer seres inteligentes foram criados iguais: simples e ignorantes. A simplicidade é tanta que se define numa mónada1, também dita princípio inteligente ou espiritual; a ignorância é tanta que dela surge naturalmente a maldade.

Na verdade, sem a teoria da reencarnação a vida como ela é perde sentido lógico, e dado que o pensamento é cada vez menos não racional a falta de um elemento explicativo facilmente conduz ao ateísmo e ao materialismo.

Bem vistas as coisas, o banimento da ideia de reencarnação do cristianismo produziu uma civilização materialista (veja-se a Europa e a América do Norte) que, por esse materialismo (o próprio cristianismo, com as suas Igrejas muito mundanas e pouco espirituais, e a ciência, que inquinada pelo mesmo líquido amniótico herdou o preconceito), falhou a sua missão civilizacional naquilo que mais importava: libertar e iluminar consciências com a verdade.

Quando a ideia da reencarnação foi banida, Deus foi banido também.

Só uma fé muito cega pode subsistir no imobilismo e na injustiça.


1 Substância simples, criada desde o princípio, inacessível a quanto existe e incorruptível, mas sujeita a evoluções e desenvolvimento até alcançar o intelectual (teoria de Leibnitz).



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