As comunicações espíritas de Jesus


São comunicações atribuídas a Jesus, e por Allan Kardec aceites como tal, a que consta em O Livro dos Médiuns, Capítulo XXXI - Dissertações espíritas, IX, e a publicada na Revista Espírita, Setembro de 1868, Instruções dos Espíritos - Que fizeram de mim?

Uma leitura desapaixonada permite verificar facilmente a pobreza de originalidade de ambas as comunicações, que repetem um discurso católico ao alcance de qualquer um e que, nos séculos XX e XXI, tantas vezes se tem visto em escritos mais ou menos mediúnicos de padres, freiras, e laicos dados ao fervor religioso.

Sectárias de princípio a fim, não há muito por onde se lhes pegue quanto à credibilidade, e se quisermos uma humanidade que se respeite nas diferenças, as comunicações, medíunicas ou anímicas ou uma mistura das coisas ambas, roçam a indignidade.

O facto é que Allan Kardec aceitou-as como vindas de Jesus. Ora, esta aceitação delineia a orientação seguida e inquina a seleção das respostas às perguntas que formulou, que, sobretudo quando toca às questões morais, muitas vezes nada se afasta do Deus do Antigo Testamento, um deus frio, cruel, vingativo, ciumento, que nada tem a ver com aquele que abre O Livro dos Espíritos. Há uma contradição de fundo, e até de forma, entre respostas, que só permitem a leitura com senso crítico para não se cair no engodo do apelo à fé, fé que deriva do temor e tolda o raciocínio.

No geral, toda a obra, conhecida pelos seguidores como Codificação, enferma deste viés, apesar da manifesta seriedade posta no trabalho e que, na minha perspectiva, apresenta aspectos válidos, a merecerem atenta reflexão (e talvez a reflexão tenha permitido ver as lacunas).

À parte as incongruências, ou talvez por elas mesmas, o que parece é que o objectivo maior da obra era (e ponho nesta conjugação verbal porque a intenção esvaziou-se pelo caminho) trazer ao ocidente europeu de forma esclarecida princípios fundamentais da vida como são a reencarnação, a comunicabilidade entre frequências vibratórias diferenciadas, e um entendimento de Deus mais adulto – apesar de deste item não terem sido extraídas consequências filosóficas coerentes todo o tempo, já que em muitos momentos impôs-se o entendimento do imaturo catecismo católico.





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