À Conversa com Espíritos - XXVI


- O livro Nosso Lar mais que um best-seller é a “bíblia” da nova revelação espírita (a quarta, segundo alguns), pois diz o que queremos ouvir. Mas, neste caso também, o que queremos ouvir corresponde necessariamente à verdade?


- Mais uma vez: foi algo que os Espíritos espontaneamente, por diversos médiuns, em diversos lugares e ao mesmo tempo, disseram?

A similaridade de Nosso Lar, e vários outros da série atribuída ao Espírito André Luiz, com A Vida Além do Véu é evidente, mas a obra de George Vale Owen antecedeu em, grosso modo, três décadas esses livros de F. C. Xavier [Owen recebeu as primeiras páginas em Setembro de 1913 e Nosso Lar foi publicado em 1944], pelo que o princípio necessário para a concordância não está presente. É de notar que a mediunidade, sobretudo o transe mediúnico, não se dissocia da sugestionabilidade, que se geralmente é exógena não impede a causa endógena, ou seja, a auto-sugestão. Não é de excluir o plágio.

Ponto seguinte: tal como é apresentada, a vida nessa colónia espiritual é em tudo idêntica à das sociedades terrestres mais avançadas tecnologicamente, mas ainda as ultrapassa por larga margem. Bom, para explicar fenómenos de efeitos físicos Allan Kardec supôs que possivelmente, aos corpos inertes da Terra correspondem outros, análogos, porém etéreos, no mundo invisível; de que a matéria condensada, que forma os objetos, pode ter uma parte quintessenciada, que nos escapa aos sentidos[LM VIII, 126]. No entanto, para sair do domínio das suposições para o das certezas Kardec perguntou [LM VIII, 128-4ª]: “Dar-se-á que a matéria inerte se desdobre? Ou que haja no mundo invisível uma matéria essencial, capaz de tomar a forma dos objetos que vemos? Numa palavra, terão estes um duplo etéreo no mundo invisível como os homens são nele representados pelos Espíritos?”. Em chegados aqui já adivinhamos que se a resposta for afirmativa o mundo invisível descrito em Nosso Lar é admissível, mas que se for negativa já não é admissível. Pois a resposta diz: “Não é assim que as coisas se passam”. Então, se o sentido conotativo de “não é assim que as coisas se passam” é o usual da linguagem corrente, significa que a realidade é bem diferente do que é apresentado. Os Espíritos agem sobre os elementos materiais onde eles existem; se a dimensão é espiritual, onde a matéria tangível e permanente (e comestível!) dos edifícios e da parafernália tecnológica que, assim se divulga, antecipa a réplica imperfeita no vosso mundo material? É que as criações fluídicas são transitórias; o mesmo pensamento que as ergue também as derriba. Quanta vez os Espíritos vêem o que imaginam e tomam por realidade o que é ilusão! [RE, Ago66 “Criações Fantásticas da Imaginação”]

Mas a questão resolve-se com a resposta àquela outra já estudada de existirem ou não as famigeradas colónias espirituais. Se não existem, que estamos a debater? Portanto, aceitar o elusivo mas que quer-se ouvir, ou não aceitar o que se ouve até que com factos ou com a lógica se fundamente, é escolha de cada um.

Sem os aspectos aterrorizantes, a descrição poderia encontrar correspondência aproximada com um mundo material algo superior à Terra, mas do modo que conta é uma anfibologia literária.

Quanto à verdade: “Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela, pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado [LE 628]”.



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